BOM
DIA, VIETNAME (1987)
A
Guerra do Vietname, que opôs o Vietname do Norte e os norte-americanos,
manteve-se acesa entre 1955 e 30 de Abril de 1975. Os vietnamitas do Sul
estiveram do lado americano, enquanto países como a China, a Coreia do Norte e
a União Soviética prestaram apoio logístico ao Vietname do Norte, também
conhecido por Vietcongue. Neste conflito morreram cerca de três a quatro
milhões de vietnamitas do Norte e do Sul, além de outros dois milhões de
cambojanos e laocianos, arrastados para a guerra com a propagação do conflito.
Do lado americano, as baixas atingiram cerca de 58 mil militares. Esta foi uma
guerra que se afastou das regras convencionais, optando por uma guerrilha
sistemática de um dos lados e pelo uso de bombardeamentos com armas químicas
desfolhantes do outro. Os meios de comunicação
norte-americanos, e internacionais, cobriram largamente esta guerra, que gerou
enorme polémica e causou forte divisão na sociedade ianque. Os Acordos de Paz
de Paris em 1973 foi o primeiro passo para o fim do conflito que só terminaria
em abril de 1975, com a ocupação comunista de Saigão, capital do Vietnam do
Sul, e a rendição do exército sul-vietnamita. Esta guerra teve profundos
reflexos na cultura norte-americana, e obviamente na sua indústria
cinematográfica. Muitos filmes abordaram directa ou indirectamente o conflito.
Alguns ainda durante as fases de combate, outros posteriormente. “Mash”
serviu-se de outra guerra para apontar a esta. “O Soldado Azul” ou “O Pequeno
Grande Homem”, por exemplo, eram westerns que metaforicamente abordavam o caso
Vietnam.
“Bom
Dia, Vietnam”, de Barry Levinson, de 1987, realizado 12 anos após o termo do
conflito, tinha já uma outra possibilidade de análise, dispondo de um certo
distanciamento. Curiosamente, o filme baseia-se numa figura que realmente
existiu, Adrian Cronauer, mas este não se sentiu muito identificado com a sua
personagem. Disse que nunca as suas emissões tinham tido um cunho humorístico,
que não se reconhece senão em 45 % do que acontece na obra, que esta o
apresenta como um quase pacifista e anti-guerra, quando ele era sobretudo
“contra a estupidez”, e finalmente concluiu que se tivesse feito metade do que
se vê no filme teria sido julgado em Conselho de Guerra. Parece que hoje em dia
é advogado e membro proeminente do partido Republicano.
O filme ficciona,
portanto, um pouco a figura do modelo, e o que vemos é a história de um locutor
de rádio e “disc jockey” que chega ao Vietnam para animar as forças armadas
norteamericanas aí aquarteladas. As emissões anteriores eram particularmente
cuidadas, moderadas, politicamente correctas e militarmente controladas. Com a
chegada de Adrian Cronauer, tudo se modifica e precipita num sentido diverso. A
começar desde logo pela sua saudação inicial: Goooood Moorning, Vietnammmm!!
Depois a irreverência das suas palavras, a escolha de um repertório musical à
base de rock, a alegria e espontaneidade das suas réplicas em tudo se assemelha
à sua forma descontraída de trajar, à maneira como convive com os indígenas.
Adrian Cronauer provoca uma pequena tempestade no aquartelamento, divide as
tropas, opõe os superiores em campos opostos, cria amigos e inimigos (como o
vingativo sargento Dickerson) e acaba reenviado para casa, por tudo isto que
atrás fica dito e por conviver com um suposto vietcong, que era irmão de um
jovem por quem visivelmente se apaixonara.
Barry
Levinson é um realizador bastante interessante, que assinou um conjunto de
obras quase sempre de boa qualidade, assentes em argumentos inteligentes, bem
conduzidas e normalmente muito bem interpretadas. Boa escolha de actores e,
igualmente, boa direcção, mesmo quando, como no caso presente, essa boa direcção
foi de certa forma dar rédea solta a Robin Williams. Produtor, argumentista,
actor, homem de mil talentos no campo do cinema, Barry Levinson é sobretudo
saudado como realizador de um bom conjunto de títulos que o notabilizaram nas
décadas de 80 e 90 do século passado, a começar desde logo pelo belíssimo
“Adeus, Amigos” (1982), passando por “Um Homem Fora de Série”, “O Enigma da
Pirâmide”, “Bom Dia, Vietname”, “Encontro de Irmãos”, “Bugsy”, “Revelação”,
“Sentimento de Revolta”, “Manobras na Casa Branca” até chegar a “Os Melhores
Anos”. Ultimamente, filmes como “O Homem do Ano”, “Pânico em Hollywood” ou “A
Humilhação” (2014) não parecem manter viva a mesma qualidade e interesse. A sua
colaboração com Robin Williams foi numerosa, mas definitivamente o título de
glória de ambos é “Bom Dia, Vietname”.
Rodado
em grande parte em Banguecoque, na Tailândia (a fazer-se passar pelo Vietnam),
o filme possui uma excelente fotografia, uma montagem nervosa e rigorosa, uma
banda sonora de sucessos da época, e uma realização que sabe assumir-se em
cenas de exteriores e quase apagar-se perante o génio de Robin Williams.
BOM
DIA, VIETNAME
Título
original: Good Morning, Vietnam
Realização: Barry Levinson (EUA,1987); Argumento: Mitch Markowitz; Produção: Harry
Bennm, Larry Brezner, Mark Johnson, Ben Moses; Música: Alex North; Fotografia
(cor): Peter Sova; Montagem: Stu Linder; Casting: Louis DiGiaimo; Design de
produção: Roy Walker; Direcção artística: Steve Spence; Decoração: Tessa
Davies; Guarda-roupa: Keith Denny; Maquilhagem: Eric Allwright, Mike
Lockey; Direcção de Produção: Jayne
Armstrong; Assistentes de realização: M. Mathis Johnson, Sompol Sungkawess,
Gerry Toomey, Bill Westley; Departamento de arte: Len Furey, Michael G. Ploog,
John Roberts, Terry Wells; Som: Pieter Hubbard, David J. Hudson, Bruce Lacy,
Bill Phillips; Efeitos especiais: Fred
Cramer; Companhias de produção: Touchstone Pictures, Silver Screen Partners
III; Intérpretes: Robin Williams
(Adrian Cronauer), Forest Whitaker (Edward Garlick), Tung Thanh Tran (Tuan),
Chintara Sukapatana (Trinh), Bruno Kirby (Lt. Steven Hauk), Robert Wuhl (Marty
Lee Dreiwitz), J.T. Walsh (Sgt. Major Dickerson), Noble Willingham (Gen.
Taylor), Richard Edson (Pvt. Abersold), Juney Smith, Richard Portnow, Floyd
Vivino, Cu Ba Nguyen, Dan Stanton, Don Stanton, Danny Aiello III, James
McIntire, Peter Mackenzie, No Tran, Hoa Nguyen, Uikey Kuay, Suvit Abakaz, Panas
Wiwatpanachat, Lerdcharn Namkiri, etc. Duração: 121 minutos;
Distribuição em Portugal: Lusomundo Audiovisuais; Classificação etária: M/ 12
anos; Data de estreia em Portugal: 14 de Outubro de 1988.
ROBIN
WILLIAMS (1951-2014)
Robin McLaurin Williams nasceu em
Chicago (EUA), a 21 de Julho de 1951, e faleceu em Paradise Cay (EUA), a 11 de
Agosto de 2014, vítima de suicídio por enforcamento. O corpo foi cremado e as
cinzas foram lançadas na baía de San Francisco. Em 1973, Williams foi
selecionado para integrar a prestigiada Juilliard School, onde John Houseman o
escolheu, juntamente com Christopher Reeve, para prosseguirem estudos mais
avançados. Era um aluno brilhante no estudo dos dialectos. Deixou a Juilliard
em 1976. Actor, com particular destaque em papéis cómicos, iniciou a sua
carreira na televisão, em inúmeras séries (as mais célebres de todas terão sido
“Happy Days” e “Mork and Mindy”), e como actor de “stand-up comedy”. Em 1980,
estreia-se no cinema, pela mão de Robert Altman, em “Popeye”, a que se segue um
importante conjunto de obras que consolidam definitivamente o seu nome: “O
Estranho Mundo de Garp”, “Os Sobreviventes”, “Um Russo em Nova Iorque”, “Bom
Dia, Vietname”, “A Fantástica Aventura do Barão” ou “O Clube dos Poetas Mortos”
(1989), com o qual arrecada impressionante sucesso público e de crítica.
Seguem-se “Despertares”, “Hook” e “O Rei Pescador”. Com “O Bom Rebelde” (1977)
ganha o Oscar de Melhor Actor Secundário. Foi nomeado mais três vezes, todas
como Melhor Actor: “Good Morning, Vietnam” (1987), “Dead Poets Society” (1989)
e “The Fisher King” (1991). Também conquistou ao longo da sua carreira mais
dois Emmys, seis Globos de Ouro, dois prémios do Screen Actors Guild e cinco
Grammys. As nomeações e muitos outros prémios são inumeráveis. Mas a partir de
inícios de meados da década de 90. a sua estrela começou a empalidecer.
Ofereciam-lhe quase só papéis de dobragem em filmes de animação, e o
protagonismo em comédias que não mereciam o seu talento. Títulos como “Papá
para Sempre”, “Jumanji”, “Casa de Doidas”, “Jack”, “O Dia dos Pais”, “Flubber -
O Professor Distraído”, “Patch Adams”, “Um Milagre de Natal”, “Quem Está Morto
Sempre Aparece”, “Com a Casa às Costas”, “O Homem do Ano”, “À Noite, no
Museu1,2,3”. “À Noite no Museu: O Segredo do Faraó” (2014) foi o seu último
filme. Mas entre algumas inutilidades, devem ressalvar-se as suas colaborações
em “As Faces de Harry”, “O Homem Bicentenário”, “A.I. Inteligência Artificial”,
“A Face do Amor” ou “O Mordomo”.
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