sábado, 7 de janeiro de 2017

BOM DIA, VIETNAME


BOM DIA, VIETNAME (1987)

A Guerra do Vietname, que opôs o Vietname do Norte e os norte-americanos, manteve-se acesa entre 1955 e 30 de Abril de 1975. Os vietnamitas do Sul estiveram do lado americano, enquanto países como a China, a Coreia do Norte e a União Soviética prestaram apoio logístico ao Vietname do Norte, também conhecido por Vietcongue. Neste conflito morreram cerca de três a quatro milhões de vietnamitas do Norte e do Sul, além de outros dois milhões de cambojanos e laocianos, arrastados para a guerra com a propagação do conflito. Do lado americano, as baixas atingiram cerca de 58 mil militares. Esta foi uma guerra que se afastou das regras convencionais, optando por uma guerrilha sistemática de um dos lados e pelo uso de bombardeamentos com armas químicas desfolhantes do outro. Os meios de comunicação norte-americanos, e internacionais, cobriram largamente esta guerra, que gerou enorme polémica e causou forte divisão na sociedade ianque. Os Acordos de Paz de Paris em 1973 foi o primeiro passo para o fim do conflito que só terminaria em abril de 1975, com a ocupação comunista de Saigão, capital do Vietnam do Sul, e a rendição do exército sul-vietnamita. Esta guerra teve profundos reflexos na cultura norte-americana, e obviamente na sua indústria cinematográfica. Muitos filmes abordaram directa ou indirectamente o conflito. Alguns ainda durante as fases de combate, outros posteriormente. “Mash” serviu-se de outra guerra para apontar a esta. “O Soldado Azul” ou “O Pequeno Grande Homem”, por exemplo, eram westerns que metaforicamente abordavam o caso Vietnam.
“Bom Dia, Vietnam”, de Barry Levinson, de 1987, realizado 12 anos após o termo do conflito, tinha já uma outra possibilidade de análise, dispondo de um certo distanciamento. Curiosamente, o filme baseia-se numa figura que realmente existiu, Adrian Cronauer, mas este não se sentiu muito identificado com a sua personagem. Disse que nunca as suas emissões tinham tido um cunho humorístico, que não se reconhece senão em 45 % do que acontece na obra, que esta o apresenta como um quase pacifista e anti-guerra, quando ele era sobretudo “contra a estupidez”, e finalmente concluiu que se tivesse feito metade do que se vê no filme teria sido julgado em Conselho de Guerra. Parece que hoje em dia é advogado e membro proeminente do partido Republicano. 


O filme ficciona, portanto, um pouco a figura do modelo, e o que vemos é a história de um locutor de rádio e “disc jockey” que chega ao Vietnam para animar as forças armadas norteamericanas aí aquarteladas. As emissões anteriores eram particularmente cuidadas, moderadas, politicamente correctas e militarmente controladas. Com a chegada de Adrian Cronauer, tudo se modifica e precipita num sentido diverso. A começar desde logo pela sua saudação inicial: Goooood Moorning, Vietnammmm!! Depois a irreverência das suas palavras, a escolha de um repertório musical à base de rock, a alegria e espontaneidade das suas réplicas em tudo se assemelha à sua forma descontraída de trajar, à maneira como convive com os indígenas. Adrian Cronauer provoca uma pequena tempestade no aquartelamento, divide as tropas, opõe os superiores em campos opostos, cria amigos e inimigos (como o vingativo sargento Dickerson) e acaba reenviado para casa, por tudo isto que atrás fica dito e por conviver com um suposto vietcong, que era irmão de um jovem por quem visivelmente se apaixonara.
Barry Levinson é um realizador bastante interessante, que assinou um conjunto de obras quase sempre de boa qualidade, assentes em argumentos inteligentes, bem conduzidas e normalmente muito bem interpretadas. Boa escolha de actores e, igualmente, boa direcção, mesmo quando, como no caso presente, essa boa direcção foi de certa forma dar rédea solta a Robin Williams. Produtor, argumentista, actor, homem de mil talentos no campo do cinema, Barry Levinson é sobretudo saudado como realizador de um bom conjunto de títulos que o notabilizaram nas décadas de 80 e 90 do século passado, a começar desde logo pelo belíssimo “Adeus, Amigos” (1982), passando por “Um Homem Fora de Série”, “O Enigma da Pirâmide”, “Bom Dia, Vietname”, “Encontro de Irmãos”, “Bugsy”, “Revelação”, “Sentimento de Revolta”, “Manobras na Casa Branca” até chegar a “Os Melhores Anos”. Ultimamente, filmes como “O Homem do Ano”, “Pânico em Hollywood” ou “A Humilhação” (2014) não parecem manter viva a mesma qualidade e interesse. A sua colaboração com Robin Williams foi numerosa, mas definitivamente o título de glória de ambos é “Bom Dia, Vietname”.
Rodado em grande parte em Banguecoque, na Tailândia (a fazer-se passar pelo Vietnam), o filme possui uma excelente fotografia, uma montagem nervosa e rigorosa, uma banda sonora de sucessos da época, e uma realização que sabe assumir-se em cenas de exteriores e quase apagar-se perante o génio de Robin Williams.


BOM DIA, VIETNAME
Título original: Good Morning, Vietnam
Realização: Barry Levinson (EUA,1987); Argumento: Mitch Markowitz; Produção: Harry Bennm, Larry Brezner, Mark Johnson, Ben Moses; Música: Alex North; Fotografia (cor): Peter Sova; Montagem: Stu Linder; Casting: Louis DiGiaimo; Design de produção: Roy Walker; Direcção artística: Steve Spence; Decoração: Tessa Davies; Guarda-roupa: Keith Denny; Maquilhagem: Eric Allwright, Mike Lockey;  Direcção de Produção: Jayne Armstrong; Assistentes de realização: M. Mathis Johnson, Sompol Sungkawess, Gerry Toomey, Bill Westley; Departamento de arte: Len Furey, Michael G. Ploog, John Roberts, Terry Wells; Som: Pieter Hubbard, David J. Hudson, Bruce Lacy, Bill Phillips;  Efeitos especiais: Fred Cramer; Companhias de produção: Touchstone Pictures, Silver Screen Partners III; Intérpretes: Robin Williams (Adrian Cronauer), Forest Whitaker (Edward Garlick), Tung Thanh Tran (Tuan), Chintara Sukapatana (Trinh), Bruno Kirby (Lt. Steven Hauk), Robert Wuhl (Marty Lee Dreiwitz), J.T. Walsh (Sgt. Major Dickerson), Noble Willingham (Gen. Taylor), Richard Edson (Pvt. Abersold), Juney Smith, Richard Portnow, Floyd Vivino, Cu Ba Nguyen, Dan Stanton, Don Stanton, Danny Aiello III, James McIntire, Peter Mackenzie, No Tran, Hoa Nguyen, Uikey Kuay, Suvit Abakaz, Panas Wiwatpanachat, Lerdcharn Namkiri, etc. Duração: 121 minutos; Distribuição em Portugal: Lusomundo Audiovisuais; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 14 de Outubro de 1988.

ROBIN WILLIAMS (1951-2014)

Robin McLaurin Williams nasceu em Chicago (EUA), a 21 de Julho de 1951, e faleceu em Paradise Cay (EUA), a 11 de Agosto de 2014, vítima de suicídio por enforcamento. O corpo foi cremado e as cinzas foram lançadas na baía de San Francisco. Em 1973, Williams foi selecionado para integrar a prestigiada Juilliard School, onde John Houseman o escolheu, juntamente com Christopher Reeve, para prosseguirem estudos mais avançados. Era um aluno brilhante no estudo dos dialectos. Deixou a Juilliard em 1976. Actor, com particular destaque em papéis cómicos, iniciou a sua carreira na televisão, em inúmeras séries (as mais célebres de todas terão sido “Happy Days” e “Mork and Mindy”), e como actor de “stand-up comedy”. Em 1980, estreia-se no cinema, pela mão de Robert Altman, em “Popeye”, a que se segue um importante conjunto de obras que consolidam definitivamente o seu nome: “O Estranho Mundo de Garp”, “Os Sobreviventes”, “Um Russo em Nova Iorque”, “Bom Dia, Vietname”, “A Fantástica Aventura do Barão” ou “O Clube dos Poetas Mortos” (1989), com o qual arrecada impressionante sucesso público e de crítica. Seguem-se “Despertares”, “Hook” e “O Rei Pescador”. Com “O Bom Rebelde” (1977) ganha o Oscar de Melhor Actor Secundário. Foi nomeado mais três vezes, todas como Melhor Actor: “Good Morning, Vietnam” (1987), “Dead Poets Society” (1989) e “The Fisher King” (1991). Também conquistou ao longo da sua carreira mais dois Emmys, seis Globos de Ouro, dois prémios do Screen Actors Guild e cinco Grammys. As nomeações e muitos outros prémios são inumeráveis. Mas a partir de inícios de meados da década de 90. a sua estrela começou a empalidecer. Ofereciam-lhe quase só papéis de dobragem em filmes de animação, e o protagonismo em comédias que não mereciam o seu talento. Títulos como “Papá para Sempre”, “Jumanji”, “Casa de Doidas”, “Jack”, “O Dia dos Pais”, “Flubber - O Professor Distraído”, “Patch Adams”, “Um Milagre de Natal”, “Quem Está Morto Sempre Aparece”, “Com a Casa às Costas”, “O Homem do Ano”, “À Noite, no Museu1,2,3”. “À Noite no Museu: O Segredo do Faraó” (2014) foi o seu último filme. Mas entre algumas inutilidades, devem ressalvar-se as suas colaborações em “As Faces de Harry”, “O Homem Bicentenário”, “A.I. Inteligência Artificial”, “A Face do Amor” ou “O Mordomo”. 

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