domingo, 14 de maio de 2017

UM ESPADA PARA HOLLYWOOD


UM ESPADA PARA HOLLYWOOD 
(1956)

Antes da sua actividade a solo, como actor, argumentista, por vezes produtor, quase sempre realizador, Jerry Lewis teve um período durante o qual dividiu o protagonismo com Dean Martin, constituindo-se assim numa dupla que teve grande sucesso. A dupla surge em 1949, em “A Minha Amiga Irma” (My Friend Irma), de George Marshall, e dura 17 títulos e sete anos, precisamente até 1956, quando rodam “Hollywood or Bust”, tendo depois cada um dos actores seguido carreiras a solo bem-sucedidas. Dean Martin era o romântico sedutor que cantava melodias seguramente bem xaroposas e Jerry Lewis era invariavelmente o desajeitado bem-intencionado que punha tudo de pantanas com a sua inabilidade. A dupla funcionava com a complementaridade habitual destes casos (Bucha e Estica, Abbott e Costelo, etc.) e lançou filmes quase sempre de riso seguro, mas nem sempre de qualidade cinematográfica inabalável. Por vezes alguns cineastas mais hábeis conseguiam unir o útil ao agradável e geraram-se então obras muito interessantes. Norman Panama ou Frank Tashlin estão neste caso, sobretudo este último, que dirige exactamente “Um Espada Para Hollywood”. 


Esta é a história de Malcolm Smith, um cinéfilo fanático que sonha com Anita Ekberg, uma das vamps mais em voga no cinema internacional (que o diga a sua participação em “Fellini 8 ½”, quatro anos depois). Esta é igualmente a história de Steve Wiley, um pequeno burlão a contas com uma dívida de 3000 dólares contraída junto de um mafioso violento. Um e outro encontram-se na plateia de um teatro de Nova Iorque onde se sorteia um daqueles carros americanos a que se chamava “espada”. Malcolm Smith comprou quase todas as rifas, porque quer ir a Hollywood encontrar-se com a sua actriz preferida. Steve Wiley falsificou todas as rifas, duplicando-as, por forma a antecipar-se a todos os concorrentes, ganhar o carro e fugir para a costa oeste. Surgem assim dois vencedores, uma mesma viagem repartida, um a cantar canções delicodoces, o outro a protagonizar as maiores trapalhadas sempre com a melhor das boas vontades e um tique muito especial para acertar na máquina do jackpot. A viagem de uma costa à outra dos EUA é um desfile de Estados, usos e costumes, paisagens e pin ups indescritíveis, com acidentes e peripécias ilimitadas (desde a velhinha assaltante até ao touro que Jerry toma por vaca leiteira), criando uma sucessão de gags bastante bem explorados pela câmara de Tashlin. Kitsch? Sim, e de que maneira! Mas em muitos dos casos um kitsch assumido e crítico, noutros uma poeira dos tempos que também merece ser apreciada. O genérico é desde logo delicioso e a apresentação de Dean Martin dos cinéfilos das diferentes latitudes do mundo uma obra-prima, onde Jerry Lewis se multiplica em personagens magníficas. Só esse início merece o bilhete. Mas o resto situa-se a muito bom nível e antecipa o grande Jerry que viria a seguir. 


UM ESPADA PARA HOLLYWOOD 
Título original: Hollywood or Bust
Realização: Frank Tashlin (EUA, 1956); Argumento: Erna Lazarus, Frank Tashlin; Produção: Paul Nathan, Hal B. Wallis; Música: Walter Scharf; Fotografia (cor): Daniel L. Fapp; Montagem: Howard A. Smith; Direcção artística: Henry Bumstead, Hal Pereira; Decoração: Fay Babcock, Sam Comer; Guarda-roupa: Edith Head; Maquilhagem: Wally Westmore; Assistentes de realização: James A. Rosenberger, William Watson, Charles C. Coleman, Gary Nelson; Som: Gene Garvin, Hugo Grenzbac; Efeitos visuais: Farciot Edouart, John P. Fulton; Companhias de produção: Paramount Pictures; Intérpretes: Dean Martin (Steve Wiley), Jerry Lewis (Malcolm Smith), Pat Crowley (Terry Roberts), Max 'Slapsie Maxie' Rosenbloom (Bookie Benny), Anita Ekberg (Anita), Valerie Allen, Leon Alton, Adelle August, Nick Borgani, Paul Bradley, Catherine Brousset, Drew Cahill, Kathryn Card, Paul Cristo, Jack Deery, Jack Delrio, Beach Dickerson, Alphonso DuBois, Minta Durfee, Dominic Fidelibus, Rudy Germane, Joe Gray, Sam Harris, Frank Wilcox, etc. Duração: 95 minutos; Distribuição em Portugal (DVD): Feel Films; Classificação etária: M/ 12 anos.

FRANK TASHLIN 
(1913-1972)
Frank Tashlin, cujo nome de baptismo era Francis Fredrick von Taschlein, nasceu a 19 de Fevereiro de 1913 em Weehawken, New Jersey, EUA, e morreu a 5 de Maio de 1972, em Los Angeles, Califórnia, EUA. Iniciou a sua carreira, nos anos 30 do século XX, como desenhador sob o comando de Paul Terry, na série de animação “Aesop's Film Fables”, passando depois pelo produtor Amadee J. Van Beuren, e pelos estúdios da Warner Bros. Em 1934 cria uma série, “Van Boring”, que ficou a dever muito ao seu anterior mestre Van Beuren. Continua nos estúdios de Ub Iwerks, depois é contratado por Hal Roach como argumentista e criador de gags. Em 1938, vamos encontrá-lo já a trabalhar para Walt Disney, ainda como argumentista, saltando para a Columbia Pictures em 1941, acumulando funções de produção. Mas a animação não o abandona e, em 1943, volta à Warner, onde desenvolve avultado trabalho. São deste tempo, durante a II Guerra Mundial, os cartoons do soldado Snafu. Abandona a animação e dedica-se sobretudo à tarefa de gagman para os Marx Brothers e Lucille Ball ou de escritor de argumento para filmes de Bob Hope ou Red Skelton. Depois de dezenas de curtas-metragens, estreia-se na realização de filmes de fundo, em 1951, com “O Vigarista” (The Lemon Drop Kid), com Bob Hope, mas não aparece creditado no genérico (a realização surge assinada por Sidney Lanfield). A sua primeira longa-metragem é por isso “The First Time”, do ano seguinte. Autor dedicado sobretudo ao humor, para onde importa muito da sua experiência como criador de animação e gagman, Tashlin assina um belo conjunto de comédias como “The Girl Can't Help It”, “Artists and Models”, “Hollywood or Bust”, “Will Success Spoil Rock Hunter?”, “Rock-A-Bye Baby”, “The Geisha Boy”, “Cinderfella”, “It's Only Money”, “Who's Minding the Store?” ou "The Disorderly Orderly". Muitos destes títulos marcam a carreira de Jerry Lewis a solo, sendo que Tashlin é um dos seus mestres incontestáveis. Ainda dirigiu alguns outros filmes interessantes, mas a sua carreira decaiu a partir de meados da década 60. “The Man from the Diners' Club”, com Danny Kaye, "The Alphabet Murders” ou "The Glass Bottom Boat" são títulos ainda a registar. 

Principais filmes: Como realizador inicia-se, entre 1933 e 1947, com dezenas de curtas-metragens de animação e algumas em imagem real. Em 1951, estreia-se na longa-metragem com “The Lemon Drop Kid”, mas o seu nome desaparece do genérico. “The First Time” é o seu primeiro filme de fundo, a que se segue “Son of Paleface” (O Filho do Valentão), ambos de 1952. Outros títulos importantes: 1954: Susan Slept Here (As Três Noites de Susana); 1955: Artists and Models (Artistas e Raparigas); 1956: The Lieutenant Wore Skirts (O Tenente Usava Saias); The Girl Can’t Help It (Uma Rapariga com Sorte); Hollywood or Bust (Um Espada para Hollywood); 1957: Will Success Spoil Rock Hunter? (A Loira Explosiva); 1958: Rock-a-Bye Baby (Jerry Ama-Seca); The Geisha Boy (Jerry no Japão); 1959: Say One for Me (O Céu por Testemunha); 1960: Cinderfella (Cinderelo dos Pés Grandes); 1961: Snow White and the Three Stooges (Branca de Neve e os três Estarolas (não creditado); 1963: Who’s Minding the Store? (Um Namorado com Sorte); The Man from the Diners' Club (O Homem do Diners' Club); 1964: The Disorder Orderly (Jerry, Enfermeiro sem Diploma); 1965: The Alphabet Murders (O Alfabeto do Crime); 1966: The Glass Bottom Boat (Espia em Calcinhas de Renda); 1967: Caprice (Um Perigo Chamado Capricho).

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