sexta-feira, 11 de novembro de 2016

O MUNDO MALUCO


O MUNDO MALUCO (1963)

A comédia pode ter muitas razões de ser, mas normalmente o seu fito é uma crítica, mais ou menos violenta, a vícios e defeitos da Humanidade. “O Mundo Maluco”, que Stanley Kramer produziu e realizou em 1963, pode bem considerar-se um paradigma desse tipo de comédia que procura fustigar as imperfeições (sejamos generosos nos termos) da condição humana. Tudo se passa, de princípio a fim do filme, numa corrida de loucos. As primeiras imagens mostram uma estrada a ser percorrida a alta velocidade por um carro que é perseguido pela polícia. O automóvel sai da estrada, precipita-se por uma ravina abaixo, o seu tripulante é cuspido, alguns outros carros que seguem na estrada e presenciam o acidente param, os passageiros tentam ajudar o acidentado, este antes de morrer informa os presentes que debaixo de um grande W, num Parque Rosita, se encontram escondidos 350.000 dólares que serão de quem os encontrar. Livres de impostos. Primeiro desconfiados, depois procurando uma estratégia comum, finalmente cada um por si, lançam-se todos à procura do tesouro. 
São cinco os carros, mas são oito os passageiros, ainda tentam acertar numa divisão equitativa, mas ninguém quer perder uma migalha do seu pedaço de sonho. Todos percebem que o tesouro não passa de um roubo ciosamente guardado pelo seu empreendedor. Mas nenhuma daquelas almas penadas está disposta a deixar passar a sorte grande a seu lado. Todos aceitam colocar para trás das costas a finalidade inicial das suas viagens (uma segunda lua-de-mel, uma ida a Las Vegas, um passeio de repouso, a mudança de uma mobília) para se centrarem neste novo alvo. Chegar ao grande W do Parque Rosita. Tarefa que se poderia fazer nas calmas se todos unissem esforços e delineassem uma acção comum, mas que a ganância de cada um leva para acções egoístas que provocam as mais desencontradas peripécias e um caos absoluto. Tanto mais que atrás de todos se encontra igualmente a polícia, dirigida pelo Capitão Culpeper (Spencer Tracy), um xerife à beira da reforma que descobre igualmente que os agentes da autoridade não são tratados com a devida justiça e não se importa nada de entrar na corrida por sua conta e risco.


Neste vale tudo para chegar aos apetecíveis 350.000 dólares, anda-se de carro, de bicicleta, de avioneta, de asa-delta, levam-se todos os cenários possíveis pela frente, tanto faz ser velho como novo, mulher ou homem, ladrão ou força da ordem, é a condição humana no seu melhor (ou melhor: no seu pior). A crítica é vigorosa, directa, imediata, não há como não a perceber.
Depois Stanley Kramer vai buscar todas as técnicas da velha comédia muda, do “slapstick”, e convoca para este filme algumas dezenas de velhas glórias da comédia norte americana, desde os tempos do mudo. Sim, não sonhou, quase no final da obra, aparece Buster Keaton a abrir a porta de uma garagem. Sim, é verdade, Spencer Tracy falha pela milionésima vez a forma como atira o chapéu para o bengaleiro e este vai cair na rua. É mesmo Jerry Lewis quem vai ao volante de um automóvel e que se precipita como um louco com o carro para cima do chapéu. Acertou!
Sim, é mesmo verdade que aparecem Spencer Tracy, Milton Berle, Sid Caesar, Buddy Hackett, Ethel Merman, Mickey Rooney, Dick Shawn, Phil Silvers, Terry-Thomas, Jonathan Winters Dorothy Provine, Joe E. Brown, Andy Devine, Selma Diamond, Peter Falk, Sterling Holloway, Edward Everett Horton, Carl Reiner, The Three Stooges, Jimmy Durante, e tantos e tantos outros ao longo de duas horas e meia de desvairadas aventuras de um mundo louco, louco, louco, louco por dinheiro.
Se existe uma comédia épica ela é “O Mundo Maluco”. Profundamente hilariante, sem dar tréguas ao espectador, serpenteia ao longo das estradas norte-americanas (mas serpentearia ao longo das estradas de qualquer outro país) como uma hidra de sete cabeças que só tem olhos para a ambição e a avidez.


O MUNDO MALUCO
Título original: It's a Mad, Mad, Mad, Mad World

Realização: Stanley Kramer (EUA, 1963); Argumento: William Rose, Tania Rose; Produção: Stanley Kramer; Música: Ernest Gold; Fotografia (cor): Ernest Laszlo; Montagem: Gene Fowler Jr. Robert C. Jones, Frederic Knudtson; Design de produção: Rudolph Sternad; Direcção artística: Gordon Gurnee; Decoração: Joseph Kish; Guarda-roupa: Bill Thomas; Maquilhagem: George Lane, Connie Nichols, Lynn F. Reynolds, Steven Clensos, Rolf Miller; Direcção de Produção: Clem Beauchamp, Adrian Woolery; Assistentes de realização: George R. Batcheller Jr., Bert Chervin, Charles Scott, Carey Loftin; Departamento de arte: Art Cole, Saul Bass (autor do genérico e do psoter), Jack Davis; Som: Walter Elliott, Roy Granville, John K. Kean, Clem Portman, Vinton Vernon, Glenn E. Anderson, Gordon Sawyer; Efeitos especiais: Danny Lee, Chuck Gaspar;  Efeitos visuais: Linwood G. Dunn, Farciot Edouart, James B. Gordon, Jim Danforth; Companhia de produção: Casey Productions; Intérpretes: Spencer Tracy (Capt. T. G. Culpepper), Milton Berle (J. Russell Finch), Sid Caesar (Melville Crump), Buddy Hackett (Benjy Benjamin), Ethel Merman (Mrs. Marcus), Mickey Rooney (Ding Bell), Dick Shawn (Sylvester Marcus), Phil Silvers (Otto Meyer), Terry-Thomas (J. Algernon Hawthorne), Jonathan Winters (Lennie Pike), Edie Adams (Monica Crump), Dorothy Provine (Emeline Marcus-Finch), Eddie 'Rochester' Anderson, Jim Backus, Ben Blue, Joe E. Brown, Alan Carney, Chick Chandler, Barrie Chase, Lloyd Corrigan, William Demarest, Andy Devine, Selma Diamond, Peter Falk, Norman Fell, Paul Ford, Stan Freberg, Louise Glenn, Leo Gorcey, Sterling Holloway, Marvin Kaplan, Edward Everett Horton, Buster Keaton, Don Knotts, Charles Lane, Mike Mazurki, Charles McGraw, Cliff Norton, Zasu Pitts, Carl Reiner, Madlyn Rhue, Roy Roberts, Arnold Stang, Nick Stewart, The Three Stooges, Sammee Tong, Jesse White, Jimmy Durante, Morey Amsterdam, Wayne Anderson, Phil Arnold, Al Bain, Jack Benny, Paul Birch, George Bruggeman, Noble 'Kid' Chisse, John Clarke, Stanley Clements, Joe DeRita, King Donovan, Minta Durfee, Roy Engel, Larry Fine, James Flavin, Sig Frohlich, Nicholas Georgiade, Rudy Germane, Bobby Gilbert, Stacy Harris, Don C. Harvey, Al Haskell, Moe Howard, John Indrisano, Allen Jenkins, Robert Karnes, Tom Kennedy, Harry Lauter, Ben Lessy, Bobo Lewis, Jerry Lewis, Bob Mazurki, Tyler McVey, Ralph Moratz, Monty O'Grady, Barbara Pepper, Elliott Reid, Eddie Rosson, George Russell, Eddie Ryder, Jean Sewell, Charles Sherlock, Eddie Smith, Cap Somers, Paul Sorensen, Ray Spiker, Max Wagner, Doodles Weaver, Lennie Weinrib, Danele Young, etc. Duração: 154 minutos; Distribuição em Portugal: MGM; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 10 de Maio de 1965.


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