AS NOITES LOUCAS DO DR. JERRYLL (1963)
Há muitos estudiosos da obra de Jerry Lewis que afirmam que “The Nutty Professor” é o filme mais completo e perfeito deste cineasta. Por mim, “The Patsy” ocupa essa preferência, não andando muito longe, porém, desta genial adaptação da obra de Robert Louis Stevenson, no original intitulada “The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde” (na sua tradução portuguesa “O Médico e o Monstro”) e que já de si deu origem a variadíssimas versões cinematográficas. Mas curiosamente nenhuma com a intenção subscrita por Jerry Lewis. Na verdade, o que o romance de Stevenson pressupõe é uma interpretação psicanalítica da personalidade de cada ser humano, normalmente dividida entre duas posições, coexistentes no seu interior, predispondo-se ora para o Bem ora para o Mal, consoante uma ou outra dessas tendências se sobreponha à outra. Pode dizer-se que será um confronto entre a natureza animal do ser humano, e o seu duplo civilizado, educado, ensinado a viver em comunidade.
No clássico de Robert Louis Stevenson o que preexiste é um cientista, um médico bem integrado na sociedade que, mercê de uma fórmula por si inventada, deixa a descoberto o lado maligno da sua personalidade. Daí “o médico e o monstro”. Mas em quase todas as versões conhecidas, o médico é um ser normal (o que é que isso quero dizer já de si), e o monstro é mesmo “monstro”, em todas as acepções do termo. Foi assim com John Barrymore, na primeira adaptação, ainda muda, assinada por John S. Robertson (1920), foi assim com Fredric March, no filme de Rouben Mamoulian (1931), continuou assim com Spencer Tracy, ao lado de Ingrid Bergman, no título de Victor Fleming, voltou a ser com Jack Palance, no telefilme de Charles Jarrott (1968), e ainda com Christopher Lee, ao lado do seu inseparável Peter Cushing, em “Eu, Monstro” (I, Monster), de Stephen Weeks (1971), ou com Kirk Douglas, na versão televisiva de David Winters (1973).
Há dezenas e dezenas de versões, em imagem real e animação, oriundas de todos os pontos do globo, a cores e a preto e branco, quase sempre em estilo de terror, mas também em paródia, há musicais e teenagers movies, há obras-primas e coisas inenarráveis, e existe uma versão espantosa de Jean Renoir, “O Testamento do Médico e do Monstro” (Le testament du Docteur Cordelier), com uma fenomenal interpretação de Jean-Louis Barrault (1959). De resto, para muito proximamente anunciam-se, pelo menos, duas novas versões, ambas norte-americanas, assinadas por Jesse MaGill (com o próprio no protagonista), e por B. Luciano Barsuglia (com Gianni Capaldi).
Um mundo inesgotável, mas com uma progressão dramática mais ou menos estabelecida. Jerry Lewis modifica a norma e introduz uma alteração extremamente curiosa. O professor Julius Kelp é um cientista lunático, que dá aulas na universidade, e que um dia, através de uma receita mágica por si inventada, dá corpo a Buddy Love, um ídolo de multidões, bem vestido e aprumado, egoísta até dizer basta, insuportavelmente convencido, cantor de fazer desmaiar toda a plateia feminina, e etc. O bem apresentável é um ser odioso, o despistado, temeroso e estouvado professor é afinal quem se salva como pessoa.
Este o esquema geral de “As Noites Loucas do Dr. Jerryll” onde a inventiva e o originalidade do humor de Jerry Lewis atine um dos seus estádios mais elevados e brilhantes. Jerry é o artista completa, escreve o argumento (de colaboração com seu habitual colaborador Bill Richmond), produz, realiza e interpreta e com actor veste a pele de duas personagens extremamente diferentes, opostas mesmo, canta, dança, utiliza processos do cinema mudo, não esquece as lições que Tashlin lhe trouxe do cinema de animação, mas não esquece o som e desenvolve alguns gags puramente sonoros que se aliam magnificamente ai humor visual e gestual. Em suma, um pequeno génio do cinema cómico que se afirma ainda como um “autor” integral. Q uem vir por exemplo este filme e “The Patsy” em sessões seguidas, perceberá que ambos querem dizer o mesmo: ninguém deve querer ser o que não é. Realmente todos os filmes de Jerry estão impregnados por uma filosofia de vida óbvia, O cineasta realiza obras para toda a família, onde o humanismo predomina. Depois há várias constantes nos seus filmes. Os jovens são particularmente visados, os bailes de estudantes e de fim de curso aparecem em quase todos eles, o gosto pelo espectáculo, pelo cinema (e, neste particular, pelo cinema mudo e o burlesco) e pelos velhos comediantes é visível na homenagem que ostensivamente os elencos escolhidos representam, o amor triunfa sempre, ainda que raramente exista um happy end definitivo (“The Nutty Professor” apresenta mesmo vários finais).
AS NOITES LOUCAS DO DR. JERRYLL
Título original: The Nutty Professor
Realização: Jerry Lewis (EUA, 1963); Argumento: Jerry Lewis, Bill Richmond; Produção: Ernest D. Glucksman, Arthur P. Schmidt; Música: Walter Scharf; Fotografia (cor): W. Wallace Kelley; Montagem: John Woodcock; Casting: Edward R. Morse; Direcção artística: Hal Pereira, Walter H. Tyler; Decoração: Robert R. Benton, Sam Comer; Guarda-roupa: Edith Head; Maquilhagem: Nellie Manley, Jack Stone, Wally Westmore, Agnes Flanagan; Direcção de Produção: Hal Bell, William Davidson; Assistentes de realização: Ralph Axness, Jack Barry, William R. Poole; Departamento de arte: Martin Pendleton; Som: Charles Grenzbach, Hugo Grenzbach; Efeitos visuais: Paul K. Lerpae; Companhias de produção: Paramount Pictures, Jerry Lewis Enterprises; Intérpretes: Jerry Lewis (Professor Julius Kelp / Buddy Love), Stella Stevens (Stella Purdy), Del Moore (Dr. Mortimer S. Warfield), Kathleen Freeman (Millie Lemmon), Med Flory (Warzewski – jogador de futebol), Norman Alden (jogador de futebol /estudante), Howard Morris (Mr. Elmer Kelp), Elvia Allman (Edwina Kelp), Milton Frome (Dr. M. Sheppard Leevee), Buddy Lester (Barman), Marvin Kaplan, David Landfield, Skip Ward, Julie Parrish, Henry Gibson, Les Brown and His Band of Renown, Murray Alper, Roger Bacon, Todd Barron, Mel Berger, Nicky Blair, Billy Bletcher, Les Brown Jr., Mushy Callahan, Hugh Cannon, Seymour Cassel, Selette Cole, Lorraine Crawford, George DeNormand, Robert Donner, Art Gilmore (Narrador), etc. Duração: 107 minutos; Distribuição em Portugal: Lusomundo Audiovisuais; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 31 de Janeiro de 1964.
JERRY LEWIS E A
COMÉDIA NORTE-AMERICANA
A comédia americana teve, entre os anos 20 e 30 do século XX, um período
particularmente brilhante, durante o qual o burlesco foi rei. São desta época
os nomes de Charles Chaplin, Buster Keaton, Mack Sennett, Harold Lloyd, Irmãos
Marx, W. C. Fields, Harry Langdon, Laurel e Hardy, Chester Conckin, Mack Swain,
Mabel Normand, Ben Turpin, Larry Sernon, Fatty Arbuckle, Charley Chase, Andy
Clyde, Louise Fazenda, Joe. E. Brown e alguns mais.
Utilizando os mais variados processos e recorrendo a figuras de
características muito diversas, os actores atrás mencionados nada deixaram de
pé, após a sua passagem explosiva e purificadora. Era o período das gargalhadas
mortíferas que provocavam uma autêntica política de "terra queimada".
Depois seguiu-se um tempo relativamente descolorido e medíocre que caracterizou
as duas décadas seguintes e se prolongou ameaçadoramente pelos anos de 60.
Havia ainda em 40 cineastas como Frank Capra, Leo McCarey, Frank Tashlin,
Howard Hawks, George Stevens, entre outros, que nos deram comédias admiráveis.
Mas nunca mais apareceu o grande cómico de completa autoria. Os homens para
todo o serviço, do drama à comédia, abundavam, em contrapartida. Referimo-nos a
Norman Taurog, Michael Gordon, Henry Koster, George Marshall, Normam Panama,
Richard Thrope, Joshua Logan, Norman Jevison (na sua primeira fase), Charles
Walters, George Sidney, etc., etc. O que não quer dizer que por vezes esses
realizadores não lograssem obras de referir. Já na década de 60, como exemplo,
aqui deixamos alguns títulos que melhor ilustram a permanência de um género de
tradições nobres nos E.U.A: “Conversa de Travesseiro” (Michel Gordon), “Ela e
os seus Maridos” (J. lee Thompson), “Uma Americana em Paris” (Robert Parrish),
“O Mundo Maluco” (Stanley Krarner), “Vêm aí os Russos!” (Norman Jewison), “As
Noivas do Papá” ou “Quando Ele era Ela” (Vincente Minnelli), etc.
Mas os anos de 60, para além de meia dúzia de revelações, rodam-se sob os
auspícios de Billy Wilder (“Quanto Mais Quente, Melhor”, “Beija-me Idiota”, “O
Apartamento”, “Irma, La Douce”, “Como Ganhar um Milhão”, “A Vida Intima de
Sherlock Holmes”, “Amor à Italiana” ou “A Primeira 'Página”); Richard Quine
(“Sortilégio de Amor”, “Quando Paris Delira”, “A Ingénua e o Atrevido”, “Como
Matar sua Mulher”); Blake Edwards (“A Pantera Cor-de-Rosa”, “Um tiro às
Escuras”, “A Grande Corrida à Volta do-Mundo”, “What Did Vou Do in the War
Daddy?” ou “A Festa”) e Jerry Lewis. Sobretudo Jerry Lewis. Retomando a
tradição dos grandes criadores (Chaplin, Keaton, Marx, Lloyd, etc.), Jerry
Lewis foi por essa altura o único a poder ombrear com o nome dos seus geniais
predecessores. Posteriormente haveria que ter em conta um autor/actor como
Woody Allen (“O Inimigo Público”, “Bananas”, “O Grande Conquistador”. “O ABC do
Amor”, “O Herói do Ano 2.000” e tantos outros filmes que alternam a comédia e o
drama, por vezes num registo de belíssimo humor da melhor tradição judaica da
língua yiddish), ou um cineasta também actor (e também judeu) como Mel Brooks (“O
Falhado Amoroso”, “Balbúrdia no Oeste” ou “Frankenstein Júnior”). A verdade é
que Jerry Lewis, Woody Allen e Mel Brooks asseguraram um lugar insubstituível
ao "humor judeu" norte-americano. Depois do riso demolidor dos irmãos
Marx, depois da turbulência exaustiva de Bucha e Estica, depois do trágico
lirismo de um Chaplin ou Keaton, Jerry Lewis, sobretudo a partir de 1960 (data
da sua primeira realização, “Jerry no Grande Hotel”), aparece-nos como o mais
directo continuador desses cómicos geniais.
A carreira de Jerry Lewis pode dividir-se cronologicamente em três
períodos de características definidas, denunciando um esforço contínuo e
sistemático de renovação e superação, de amadurecimento de linguagem e
enriquecimento de processos.
Quando, em 1949, Hal Wallis contrata a dupla Jerry Lewis-Dean Martin,
oferecendo-lhe uma carreira na Paramount, ele pensava sobretudo em arranjar
substitutos para uma outra dupla que caía progressivamente em descrédito
(Abbott e Costello). Durante alguns anos, grande parte do público e a maioria
da crítica teimou em ver neles sucessores menores do burlesco. Jerry Lewis,
embora colocado nos “top ten” dos filmes do ano (no que se refere a receitas,
logo a adesão de público), era crismado de "palhaço", mero fazedor de
"caretas" gratuitas, cómico de segundo plano. Raros foram os eleitos
que, para lá do aparente desinteresse de certos filmes (devido à banalidade de
alguns argumentos e à mediocridade da realização de quase todos), vislumbraram
uma personalidade própria, um cómico de características seguras, um actor que,
de obra para obra, aperfeiçoava o seu jogo, dominava os fabulosos recursos
histriónicos e gestuais, impondo uma figura e, por detrás dela, uma
personalidade.
Nesta primeira época, que vai até 1956, Jerry Lewis (sempre acompanhado
por Dean Martin) interpretou dezasseis títulos que, de um modo geral,
parodiaram, de forma irregular e resultados variáveis, algumas instituições
americanas e diversos "géneros" da cinematografia daquele país. Ele
havia passado pelas forças armadas, satirizando o exército ("Recrutas...
Sentido"), a marinha ("Marujo, o Conquistador"), a aviação,
melhor dizendo, os paraquedistas ("Os Heróis do Medo"), e também as
experiências atómicas e o sensacionalismo dos mass media ("O Rapaz
Atómico"), o golf ("O Grande Jogador"), as corridas de cavalos
("Dinheiro em Caixa"), o filme de terror ("O Castelo do
Terror"), o western ("O Rei do Laço"), o circo ("O Rei do
Circo"), o show business ("O Estoira Vergas"), os comics, o
filme de gangsters e o "musical" ("Pintores e Raparigas"),
Hollywood e o star system ("Um Espada para Hollywood), etc.
À mediocridade de alguns destes filmes, opõe-se a riqueza de imaginação, a
vertiginosa sucessão de gags, a fulgurante acutilância crítica de um Frank
Tashlin (autor de "Pintores e Raparigas" e "Um Espada para
Hollywood"), cuja colaboração com Jerry Lewis parece ter sido
profundamente influente na futura carreira do actor. Somente, e por instantes,
Norman Taurog se lhe assemelha, nalgumas sequências de "Os Estoiras
Vergas", "O Rapaz Atómico" ou "Barbeiro e Professor".
Muito, porém, do que de melhor vários destes filmes da primeira fase de Jerry
Lewis comportam é-lhe ainda devido, dado que, sob diversos pseudónimos, é o
actor quem interfere ao nível da criação de gags e seu desenvolvimento. Com a
ruptura verificada em 1956 entre Jerry Lewis e Dean Martin (ruptura essa que é
consequência em grande parte, de ciúmes deste último, em virtude do êxito
popular do sócio, que lhe ensombrava a imagem), o primeiro torna-se o seu
próprio produtor, rodando sob a direcção de Tashlin (de alguma forma, a partir
daqui, seu "mestre espiritual"), várias obras de que é protagonista
isolado: "Jerry, Ama-seca", "Jerry no Japão",
"Cinderelo dos Pés Grandes", "Dinheiro e só Dinheiro",
"Um Namorado com Sorte", "Jerry, Enfermeiro sem Diploma",
entremeadas com outras que não se lhes comparam em importância e significado.
Os contornos da figura de Jerry Lewis vão-se definindo, ganhando contextura,
multiplicando-se já em heterónimos, partes de um mesmo todo que o actor
pulveriza em direcções diversas. Entre a grande ingenuidade e o profundo pânico
perante a realidade que o cerca e a que se não consegue adaptar facilmente,
entre a pesada herança do matriarcado e o pavor do sexo oposto, entre o culto
abnegado da amizade, que o conduz a situações de excessiva boa vontade (que
contra ele próprio se voltam), e a crueldade da humilhação física e moral a que
constantemente o sujeitam, entre a inconsciência do perigo e a solidão
desesperante, Jerry vai progressivamente desenhando uma personagem que, em
traços excessivos é certo, mas de rara lucidez, nos devolve a fisionomia do
americano médio, povoado de temores e frustrações, aterrorizado (e fascinado)
pelo envolvimento mecânico, pela agressividade do comportamento, pelos traumas
colectivos. Um dia, o crítico Robert Benayoun chamou-lhe um "anti-James
Dean" e com alguma razão, dado que a figura de "desadaptado" em
relação à realidade social norte-americana se expressa a um nível de total
desromantização, de ruptura risível. Produto de uma sociedade industrializada
até à medula, competitiva ao desregramento, ele é o retrato robot desse
descontrolamento geral, que em termos sociológicos se poderá chamar
"alienação". Uma personagem em busca de uma identidade, de um
equilíbrio impossível, eis Jerry Lewis.
A partir de 1960, à dupla responsabilidade de actor-produtor, alia a de
realizador e argumentista creditado. O cómico atingiu a estatura de "autor
total" e assume-se por inteiro. "Jerry no Grande Hotel" assinala
a estreia e, daí em diante, dez títulos impõem-no como uma das grandes certezas
não só da comédia americana, como da cinematografia moderna. Em 1963, com
"As Noites Loucas do Dr. Jerryll" (que será possivelmente uma das
suas obras mais perfeitas), adapta "O Médico e o Monstro", de Robert
L. Stevenson e, a partir dessa base, critica asperamente uma América onde o
"intelectual é vexado e ridicularizado e cujo génio é motivo para gracejos
perpétuos (Julius Kelp) e onde o monstro da agressiva vulgaridade (Buddy Love)
é preferido e louvado" (Benayoun dixit).
JERRY LEWIS (1926 -)
Jerry Lewis, de seu verdadeiro nome Joseph Levitch, nasceu em Newark (New
Jersey), EUA, em 16 de Março de 1926. Filho de um casal de comediantes (o pai,
Danny Lewis, actor de "vaudeville"; a mãe, Ray Rothberg, pianista de
"cabaret"), teve uma infância atribulada, em constantes deambulações,
ora sob a educação de algumas tias, ou de sua avó Sarah. Os estudos foram
igualmente acidentados, tendo permanecido alguns anos na Irvington High School
onde, aos catorze anos - depois de algumas aparições episódicas em
"cafés-concertos" onde o pai actuava - se estreia no teatro da escola
e depois no Mosque Theatre. Um dia, porém, quando um instrutor de trabalhos
manuais lhe diz que "todos os judeus são estúpidos", ele responde-lhe
com um vibrante soco que, obviamente, o expulsará da escola. Aos quinze anos
irá procurar trabalho. Empregado de um "drugstore", vendedor de
legumes, empregado numa fábrica de chapéus, são experiências que,
posteriormente, irá rever em sequências de filmes seus. Em 1940, Jerry Lewis
entra para os estúdios da Paramount, em Nova lorque, como operário de estúdio.
Assim se inicia a viagem de aproximação de Jerry Lewis aos holofotes de cena,
das luzes do espectáculo. Um dia, um actor inglês, Reginafd Gardiner,
inventa-lhe um número de imitação de cantores e actores como Sinatra, Betty
Hutton, Danny Kaye, etc. Em 1944, já Jerry Lewis trabalha com algum êxito nos
cinemas da cadeia Paramount. Canta nas orquestras de Tommy Dorsey e de Ted
Fiorito, onde encontra uma outra cantora de nome Patti Palmer, com quem vem a
casar nesse mesmo ano. Com vinte anos, Jerry Lewis encontra um tal Dino
Crocetti, vulgarmente conhecido por Dean Martin, com quem iria associar-se. A
25 de Julho de 1946, no Club 500, de Atlantic City, estreia-se a dupla que irá
sucessivamente aparecer no Casino Latin, de Chicago, no Havana-Madrid, de Nova
lorque, no Capital Theater, de Washington, no Slapey Saxie, de Hollywood, no
Copacabana, de Nova lorque. Será aqui precisamente, em 1949, que o produtor Hal
Wallis os irá "descobrir" e oferecer-lhes um interessante contrato de
longa duração na Paramount, contrato que irá prolongar-se até 1956. Entretanto,
entre 1948 e 1949, apareceram numerosas vezes na televisão, particularmente no
primeiro "Toast of the Town", que se tornará mais tarde no célebre
"Ed Sullivan Show" (1948). Em 1950, Jerry Lewis é eleito "Most
Promising Male Star in TV" (o mais promissor actor masculino). Em 1949
aparece pela primeira vez no cinema, em “My Friend Irma”, de George Marshall.
Igualmente na rádio as actuações da dupla são muito notadas, nomeadamente na
"Colgate Comedy Hour". Em 1951, declaram-no "o actor mais
popular de Hollywood" e, entre os anos de 51 a 54, a dupla Lewis-Martin é
considerada um dos "top ten money-making stars". Em 1955, 1956 e 1959
é "mestre-de-cerimónias" na atribuição dos Oscars de Hollywood.
Entretanto, em 25 de Julho de 1956, Dean Martin e Jerry Lewis, depois de alguns
anos de trabalho em comum, e de algumas desavenças (sobretudo em virtude dos
"ciúmes" de Martin, que se considerava ultrapassado pelo seu sócio),
separam-se definitivamente, fazendo a sua última aparição em conjunto no
Copacabana de Nova lorque. Em 1958, Jerry Lewis e a Paramount assinam um
contrato, pelo qual o actor será obrigado a interpretar catorze filmes, à média
de dois por ano. Em 1960, estreia-se como realizador em "The
Bellboy". Em 1966, deixa a Paramount e toma-se um produtor independente,
rodando quer para a Columbia, para a Fox, a Warner ou a United Artists.
Desde os seus inícios no cinema, Lewis fundou a sua própria produtora,
"Ron-Gar" e dirigiu numerosas curtas-metragens, "pastiches"
de filmes célebres (como "O Mundo a seus pés" ou "Até à
Eternidade"), interpretados por si próprio e por amigos como Janet Leigh e
Tony Curtis. Por outro lado, sabe-se que ele mesmo dirigiu muitos filmes e
espectáculos da parelha, deixando aparecer as assinaturas de Hal Waker ou
Norman Taurog para não vexar Dean Martin. Fora dos seus filmes, Jerry Lewis dá
espectáculos todos os anos, durante dois meses, em Las Vegas. Na TV (onde
interpretou o seu único papel em "The Jazz Singer"), além de
numerosas aparições em emissões ("Today", último trabalho ao lado de
Dean Martin, "Person to Person", "Youth Wants to Know",
etc.), foi vedeta de "The Colgate Comedy Hour" (com Dean Martin, de
1950 a 1955), "The Martin and Lewis Show" (dirigido, entre outros,
por Bud Yorkin). A 21 de Setembro de 1963, criou o "Jerry Lewis
Show", filmado no "Jerry Lewis Theatre", inaugurado na
circunstância. Produzido por Jerry, dirigido por John Dorsey, escrito por
Lewis, Bill Richmond, Bob Howard e Dick Cavett, foi o primeiro espectáculo
regular de duas horas, "em directo" da televisão americana.
Participaram nos primeiros "Jerry Lewis Shows" (a série foi
interrompida, em virtude de ter sido mal recebida pelos críticos, mas também
porque nela apareceriam demasiados "judeus e negros"), além de J. L.
e, entre outros Harry James, Dei Moore, Jimmy Durante, Bob Stack, Jack Jones,
Sammy Davis Jr., Les Browns e a orquestra, Carl Reiner, Mickey Rooney, Peter
Falk, Sid Caesar, Stanley Kramer, etc.
Jerry Lewis possui uma estação de rádio privada: a K.J.P.L.É ainda a
figura principal de um magazine de "histórias em quadradinhos" que
tem o seu nome. Gravou igualmente vários discos e fundou um curso de arte
dramática. Utiliza os alunos nos seus filmes. Todas as películas interpretadas
por Jerry Lewis (até 1965) foram produzidas pela Paramount, em geral por Hal
Wallis e depois pelo próprio Jerry Lewis. A sua casa produtora chamou-se primeiramente
York-Films e depois Jerry Lewis Films Incorporated. A partir de 1965, o actor
preferiu produzir inteiramente os seus filmes e entregá-los depois a uma
companhia que os distribui internacionalmente. Caso da Columbia, para “Uma
Poltrona para Três” e “O Charlatão”; caso de United Artists para “One More
Time”, por exemplo.
Jerry tentou igualmente a construção de uma cadeia de pequenos cinemas. Os
E.U.A. e o Canadá chegaram a contar mais de cem salas e inaugurou o primeiro
"Jerry Lewis Cinema" na Europa, em Paris. A partir dos anos 70, a sua
estrela deixou de brilhar tão intensamente. Filmes como “Vai Trabalhar,
Malandro!” ou “Jerry Tu és Louco” foram relativos fracassos de bilheteira.
Alguns cineastas lembram-se dele para aparições de homenagem, como em “O Rei da
Comédia”, de Martin Scorsese (1982), “Cookie”, de Susan Seidelman (1989),
“Sábado à Noite”, de Billy Crystal e “Arizona”, de Emir Kusturica (ambos de
1992) ou “Comédia Louca”, de Peter Chelsom (1995). Presentemente anunciam-se
projectos onde vai surgir: “The Trust”, de Alex Brewer, Ben Brewer (2016), ou
“Big Finish”, do argentino Martin Guigui (em preparação).
Principais filmes:
1. Filmes da dupla Jerry Lewis / Dean Martin
1949: My Friend Irma (A Minha Amiga Irma), de George Marshall; 1950: My
Friend Irma Goes West (A Minha Amiga Maluca), de Hal Walker; At War with the
Army (Recrutas...Sentido!), de Hal Walker; That's My Boy (Eles no Colégio), de
Hal Walker; 1952: Sailor Beware (Marujo, o Conquistador), de Hal Walker;
Jumping Jacks (Os Heróis do Medo), de Norman Taurog; 1953: The Stooge (O
Estoira-Vergas), de Norman Taurog; Scared Stiff (O Castelo do Terror), de
George Marshall; The Caddy (O Grande Jogador), de Norman Taurog; 1954: Money
From Home (Dinheiro em Caixa), de George Marshall; Living it Up (O Rapaz
Atómico), de Norman Taurog; Three Ring Circus (O Rei do Circo), de Joseph
Pevney; 1955: You're Never Too Young (Barbeiro e Professor), de Norman Taurog;
Artists And Models IPintores e Raparigas), de Frank Tashlin; 1956: Pardners (O Rei
do Laço), de Norman Taurog; Hollywood or Bust (Um Espada para Hollywood), de
Frank Tashlin.
2. Filmes protagonizados por Jerry Lewis
1957: The Delicate Delinquent (O Delinquente Delicado), de Don McGuire;
The Sad Sack (O Herói do Regimento), de George Marshall; 1958: Rock A Bye Baby
(Jerry Ama-Seca), de Frank Tashlin; The Geisha Boy (Jerry no Japão), de Frank
Tashlin; 1959: Don't Give Up the Ship (Capitão sem Barco), de Normal Taurog;
1960: Visit to a Small Planet (O Primeiro Turista do Espaço), de Norman Taurog;
Cinderella (Cinderelo dos Pés Grandes), de Frank Tashlin; 1962: It's Only Money
(Dinheiro e Só Dinheiro), de Frank Tashlin; 1963: Who's Minding the Store (Um
Namorado com Sorte), de Frank Tashlin; 1964: The Disorderly Orderly (Jerry,
Enfermeiro sem Diploma), de Frank Tashlin; 1965: Boeing-Boeing (Boeinq-Boeinq),
de John Rich; 1966: Way ... Way Out (Um Maluco em Órbita), de Gordon Douglas;
1968: Don't Raise The Bridge, Lower The River (Jerry em Londres), de Jerry
Paris; 1969: Hook, Llne And Sinker (Jerry, Pescador em Águas Turvas), de George
Marshall;
Para além destes filmes, onde Jerry Lewis desempenha sempre o principal
papel, outros houve onde fez curtas aparições, como guest star: 1959: Lll'Abner
(No País da Alegria), de Norman Panama; 1963: It's A Mad, Mad, Mad, Mad World
(0 Mundo Maluco), de Stanley Kramer; 1982: “The King of Comedy” (O Rei da
Comédia), de Martin Scorsese; 1989: “Cookie”, de Susan Seidelman, 1992: “Mr.
Saturday Night” (Sábado à Noite), de Billy Crystal e “Arizona”, de Emir Kusturica,
ou 1995: “Funny Bones” (Comédia Louca), de Peter Chelsom).
3. Realizações de Jerrv Lewis
1960: The Bellboy (Jerry no Grande Hotel); 1961: The Ladie's Man (0 Homem
das Mulheres); The Errand Boy (O Mandarete);1963: The Nutty Professor (As Noites
do Dr. Jerryl); 1964: The Patsy (Jerry 8 3/4); 1965: The Family Jewels (Jerry e
os 6 Tios); 1966: Three on a Couch (Uma Poltrona para Três); 1967: The Big
Mouth (0 Charlatão); 1969: Which Way to the Front? (0nde Fica a Guerra?); 1970:
One More Time (0 Morto Era o Outro); 1972: Le Jour ou le Clown Pleura (filme
congelado por um diferendo entre o produtor e J. Lewis); 1980: Hardly Working
(Vai Trabalhar, Malandro!); 1983: Smorgasbord (Jerry, Tu és Louco).
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