HOMEM NA LUA (1997)
“Temos
que escolher onde queremos viver. Se na selva ou no jardim zoológico. Se
quiseres viver na beleza e em liberdade, escolhes a selva. Se preferires a
segurança, optas pelo jardim zoológico”, esta é uma das frases preferidas de
Milos Forman, o realizador de “Homem na Lua”. Nascido na Checoslováquia, órfão
de pai e mãe, ambos assassinados em campos de concentração nazis, estudou na
escola de cinema de Praga, estreia-se na realização com curtas interessantes, e
depois com três comédias críticas sobre a sociedade e o sistema checoslovaco na
época, “Ás de Espadas”, “Os Amores de Uma Loira” e o magnífico “O Baile dos
Bombeiros”, que lhe abriram as portas do Ocidente. Instalado nos EUA, reanima a
sua obra com filmes de uma enorme coerência e unidade de tom e de temas,
podemos mesmo dizer de obsessões. A marginalidade, a luta pela liberdade, a
genialidade mais ou menos incompreendida, o confronto com os poderes
instituídos são alguns dos grandes temas que povoam a sua obra, que se estende
por “Os Amores de Uma Adolescente” (1971), “Voando Sobre Um Ninho de Cucos”
(1975), “Hair” (1979), “Ragtime” (1981), “Amadeus” (1984), “Valmont” (1989),
“Larry Flynt” (1996), “Homem na Lua” (1999) ou “Os Fantasmas de Goya” (2006).
“Homem
na Lua” baseia-se nalguns momentos na vida de Andrew Geoffrey Kaufman (Nova
Iorque, 17 de Janeiro de 1949 - Los Angeles, 16 de Maio de 1984) que foi um
cantor, dançarino e actor norte-americano muito particular, com uma vida
privada atribulada e uma profissional não menos conturbada. Tornou-se conhecido
em shows e performances extremamente contundentes, politicamente incorrectas,
imprevisíveis. Foi contratado pela American Broadcasting Company (ABC) para
integrar o elenco da série televisiva “Taxi”, criando a personagem do
estrangeiro Latka Gravas, com o qual o humorista quebrou todas as estruturas da
comédia convencional, apresentando números vanguardistas no teatro e em eventos
públicos diversos. Conquistou igualmente o sucesso ao interpretar Elvis Presley
e parodiar outras personalidades. Criou mesmo personagens como o cantor Tony
Clifton, que surgia do nada e ninguém conseguia localizar. Integrou igualmente
o grupo que concebia o programa Saturday Night Live. Não era, portanto, um
actor bem-comportado e, muitas vezes, insultava o público, irritava-o,
inventava histórias falsas e queria ser o melhor artista do mundo. Depois de
despedido da ABC, passou a fazer shows em ringues de luta livre, onde desafiava
mulheres. Era considerado louco por muitos e génio por poucos. Em 1984, Kaufman
anunciou que sofria de cancro no pulmão, mas raros acreditaram nessa nova sua
“piada” de mau gosto, que se viria revelar verdadeira. Faleceu em Los Angeles,
a 16 de Maio desse ano, mas há quem acredite que está vivo. Em Novembro de
2013, o irmão de Andy afirmara que ele pode estar vivo e escondido. Michael
Kaufman revelou que tinha encontrado no arquivo do irmão um plano para fingir a
sua morte. Noticiou-se que “uma alegada filha de Andy Kaufman, de 24 anos,
subira ao palco numa cerimónia da entrega dos prémios com o nome do pai, para
explicar que Andy Kaufman é "um óptimo pai que fica em casa, cozinha e
toma conta do lar". Mas um site de entretenimento, "The Smoking
Gun", revelou que a alegada filha não passava de uma atriz nova-iorquina,
chamada Alexandra Tatarsky, e que não tem qualquer relação familiar com o
comediante.
Tal
como acontecera com “Larry Flynt”, por exemplo, Milos Forman atém-se a alguns
momentos da vida de Andy Kaufman para erguer o retrato de uma personagem
contraditória, difícil de definir, um ser obviamente associal, que não se
integra, ou não se deixa integrar, no esquema tradicional da sociedade. Não há
julgamentos morais, há quanto muito um olhar de simpatia e de certa
cumplicidade, para o que concorre muito o notável trabalho de Jim Carrey, importantíssimo
para conferir credibilidade a uma figura como esta. Representando sempre no fio da navalha, entre
o realismo e a toada humorista, sarcástica, Jim Carey oferece aqui um dos seus
momentos de eleição. Mas Milos Forman conta ainda com uma excelente direcção
artística, recriando ambientes e situações, uma fotografia a condizer, e uma
montagem que subinha discretamente certas situações. Todo o elenco restante é
igualmente bastante eficaz e por vezes mesmo inspirado: Danny DeVito, Paul
Giamatti, Courtney Love, George Shapiro, entre outros. Um filme que nos deixa
inquietos, indefinidos no olhar, perplexos quanto à personagem, por vezes
incómoda, por vezes simpática, mas que é indiscutivelmente uma obra provocadora
e envolvente, a que não se resiste, ame-se ou não. Curiosamente, Karaszewski e
Alexander, os argumentistas, parecem especializados em temas deste tipo, já que
foram eles que escreveram os argumentos de “Ed Wood”, de Tim Burton, e o já
referido “Larry Flint”. Na banda sonora descobrem-se vários temas compostos
pelo próprio Andy Kaufman, além de canções da banda norte-americana R.E.M. “Man
on the Moon” ganhou o Globo de Ouro para Melhor Actor de Comédia ou Musical
(Jim Carrey).
HOMEM NA LUA
Título original: Man
on the Moon
Realização: Milos Forman (EUA,
Inglaterra, Alemanha, Japão, 1999); Argumento: Scott Alexander, Larry
Karaszewski; Produção: Pamela Abdy, Danny DeVito, Scott Ferguson, Michael
Hausman, Michael Shamberg, George Shapiro, Stacey Sher, Howard West, Bob Zmuda;
Música: R.E.M.; Fotografia (cor): Anastas N. Michos; Montagem: Adam Boome,
Lynzee Klingman, Christopher Tellefsen; Casting: Francine Maisler; Design de
produção: Patrizia von Brandenstein; Direcção artística: James F. Truesdale;
Decoração: Maria Nay; Guarda-roupa: Jeffrey Kurland; Maquilhagem: Ve Neil,
Yolanda Toussieng, Bob Zmuda; Direcção de Produção: Gerry Robert Byrne, Michael
Hausman, Henning Molfenter; Assistentes de realização: Timothy Grant Engle,
Stephen E. Hagen, David McGiffert, Michael Risoli, Michael Smith; Departamento
de arte: Jason Bedig, Martin Bernstein, Michael Curry Sr., David Elliott, Ray
Kluga, Timothy Metzger, Karla Triska; Som: Ron Bochar, Alice Byrne, Kam Chan,
Gregg Harris, Pat McCarthy, Marc-Jon Sullivan, etc.; Efeitos especiais: Larry
Fioritto, Virgil Sanchez; Efeitos visuais: Randall Balsmeyer, Daniel Leung;
Companhias de produção:Universal Pictures, Mutual Film Company, Jersey Films,
Cinehaus, Shapiro/West Productions, Tele München Fernseh
Produktionsgesellschaft, British Broadcasting Corporation (BBC), Marubeni,
Toho-Towa; Intérpretes: Jim Carrey
(Andy Kaufman / Tony Clifton), Danny DeVito (George Shapiro), Paul Giamatti
(Bob Zmuda), Courtney Love (Lynne Margulies), Gerry Becker (Stanley Kaufman,
pai de Andy), Leslie Lyles (Janice Kaufman, mãe de Andy), George Shapiro (Mr.
Besserman) Budd Friedman (Budd Friedman), Greyson Erik Pendry, Brittany
Colonna, Bobby Boriello, Tom Dreesen, Thomas Armbruster, Pamela Abdy, Wendy
Polland, Cash Oshman, Matt Price, Christina Cabot, Richard Belzer, Melanie
Vesey, Michael Kelly, Miles Chapin, Isadore Rosenfeld, Vincent Schiavelli,
Molly Schaffer, Howard West, Greg Travis, Maureen Mueller, Philip Perlman,
Jessica Devlin, Jeff Thomas, Peter Bonerz, Howard Keystone, Howdy Doody, Brent
Briscoe, Ray Bokhour, Patton Oswalt, Caroline Gibson, Conrad Roberts, Jeff
Zabel, Marilyn Sokol, Angela Jones, Krystina Carson, Patricia Scanlon, Reiko
Aylesworth, Michael Villani, Jim Ross, Jerry Lawler, Bob Zmuda, Johnny Legend,
Doris Eaton, Yoshi Jenkins, New York City Rockettes, etc. 114 minutos;
Distribuição em Portugal: Lusomundo Audiovisuais; Classificação etária: M/ 12
anos; Data de estreia em Portugal: 10 de Março de 2000.
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