MASH (1970)
Robert Bernard Altman (20/2/1925, Kansas
City, EUA; 20/11/2006, Los Angeles, EUA) foi um dos maiores cineastas
norte-americanos de fins do século XX, e um cineasta muito característico. Conheceu altos e baixos nos favores do
público, teve êxitos e insucessos, ganhou Óscares e passou ao lado de outros,
dispersou a sua obra por diversos géneros, do drama à comédia, do policial ao
musical, mas manteve-se sempre fiel a uma temática e a um estilo muito
particular, e muito pessoal. As suas obras evoluíam ao sabor de um puzzle que
continuamente se constrói e por vezes se destrói, com dezenas de personagens em
histórias aparentemente paralelas que quase sempre convergem no final para um
mesmo desfecho. Três dos últimos títulos de Robert Altman, “O Jogador”, nomeado
para alguns Oscars de 1992, “Short Cuts - Os Americanos”, retirado de curtas e
amargas histórias de Raymond Carver, que triunfou no Festival de Veneza de 1993,
que voltaria a nomear Altamn para o melhor realizador de 1993, e “Gosford Park”
(2001), várias nomeações e prémios no oscars e nos Globos de Ouro, chamaram,
por exemplo, de novo a atenção para a obra deste cineasta, um dos mais
interessantes do moderno cinema norte-americano, mas nem por isso dos mais
populares junto do grande público, com uma ou outra excepção.
Falando do campo da comédia, Altman,
desde MASH, até “A Praire Home Companion - Bastidores da Rádio” (2006) deu-nos
alguns títulos indispensáveis, como “Um Casamento” (1978), “O Casal Perfeito”
(1979), “Popeye” (1980), entre outros, mas não se pode dizer que seja um autor
de comédias, apesar de serem exemplos bastante típicos da carreira de um
realizador cuja filmografia se diversifica em direcções contrárias sendo,
todavia, possível falar sempre de um estilo próprio e de preocupações
particulares. Aliás, qualquer destes filmes, demonstram aspectos essenciais da
obra de Altman, atento à realidade circundante, que crítica de forma vigorosa e
contundente, mas também irónica e subtil, aprofundando a análise psicológica e
as implicações psicanalíticas, quer em termos pessoais, em função das diversas
personagens em confronto, quer em termos de um inconsciente colectivo norte-americano,
falando dos EUA em termos globais. Digamos que há em Altman um pendor para a parábola, exprimindo-se esta, no entanto,
por formas muito diversas: ou numa via marcadamente realista (vejam-se os casos
de “MASH”, “Um Casamento” ou “O Casal
Perfeito”, mas também outros títulos igualmente notáveis, como “Nashville” ou “O
Jogador”, que se podem igualmente integrar nesta vertente), ou através de uma
simbologia cerrada e críptica, que se esboça em “Três Mulheres” e se prolonga
em outras obras como “Aquele Dia Frio no Parque”, “A Sombra do Duplo Amante” e
“Quinteto”.
“MASH” integra-se, pois, nessa vertente
metafórica, mas de fundo vincadamente realista, por vezes mesmo hiper-realista,
que tem sido o caminho mais fecundo e também o mais original da filmografia
deste realizador. Este filme, estreado nos EUA em 1970, iria tornar Altman um
cineasta reconhecido internacionalmente, dado o enorme sucesso de público e de
crítica que conheceu. Junto da censura portuguesa, porém, a sua sorte seria
nula, pois foi proibido integralmente, sendo estreado somente depois de 1974,
quatro anos depois do seu lançamento internacional.
Divertida e corrosiva comédia de um
humor por vezes retintamente negro, MASH alcançaria o Grande Prémio do Festival
de Cannes e várias nomeações para os "Oscars", entre as quais o de Melhor
Filme, Melhor Realizador, Melhor Actriz, ganhando o Oscar de Melhor Argumento,
atribuído a Ring Larner, Jr, que adaptou ao cinema um romance de Richard
Hooker, um médico que cumpriu o seu serviço militar na Coreia, durante a
guerra.
O cenário desta comédia é um campo de
socorros a feridos (“Mobil Army Surgical Hospital”, donde M.A.S.H.), uma
espécie de hospital de campanha, localizado vagamente na Indonésia, durante a
guerra da Coreia, mas com os olhos postos obviamente na guerra do Vietname. Aí
se encontram as enfermeiras e os médicos americanos que, recrutados pelo
exército, cumprem o seu tempo de serviço militar obrigatório. O filme procura
demonstrar pelo absurdo o absurdo da guerra. Com fina ironia, por vezes com
alguma subtileza, outras entrando abertamente pela caricatura mais contrastada,
Altman ataca um pouco por todo o lado, desde a hierarquia militar à
incompetência médica, do puritanismo ao espírito vincadamente competitivo do
americano médio (veja-se essa admirável sequência do jogo de
"rugby"). O próprio machismo é parodiado numa outra sequência
notável, a última ceia de um hipotético condenado à impotência, que aceita
suicidar-se por não suportar essa ideia. Muito divertida é ainda uma outra
situação chave deste filme, uma cena de sexo que, mercê de um traiçoeiro
truque, é difundida e ouvida em estereofonia em todo o acampamento.
Altman revela-se um cineasta já de uma
excelente fluência na condução do humor e na criação de um ritmo de comédia,
jamais gratuita ou inconsequente, sempre inteligente e incisiva para com os
poderes constituídos. É conveniente recordar que, em 1970, a América se
encontrava num momento de grande contestação à intervenção americana no
Vietname, e filmes como “MASH” muito ajudaram a criar esse clima de revolta da
consciência colectiva. Excelentes
actores - Donald Sutherland, Elliot Goult, Tom Skerritt, Sally Kelllerman,
Robert Duvall, entre outros - ajudam a fazer de “MASH” uma comédia
imprescindível, um dos grandes títulos da década de 70.
MASH
Título
original: MASH
Realização: Robert Altman (EUA, 1970); Argumento: Ring Lardner, Jr., segundo
romance de Richard Hooker; Produção: Ingo Preminger, Leon Ericksen; Fotografia
(cor): Harold E. Stine; Música: Johnny
Mandel; Montagem: Danford B. Greene; Direcção artística: Jack Martin Smith e
Art Cruickshank; Decoração: Stuart A. Reiss, Walter M. Scott; Maquilhagem: Les
Berns, Edith Lindon, Daniel C. Striepeke, Gerry Leetch; Direcção de Produção:
Norman A. Cook; Assistentes de realização: Ray Taylor Jr.; Departamento de
arte: Sidney H. Greenwood, Robert Lombardi; Som: Bernard Freericks, John D.
Stack; Efeitos especiais: Greg C. Jensen; Efeitos visuais: L.B. Abbott, Art
Cruickshank; Companhias de produção: Aspen Productions, Ingo Preminger
Productions, Twentieth Century Fox Film Corporation; Intérpretes: Donald Sutherland (Hawkeye Pierce), Elliott Gould
(Trapper John McIntyre), Tom Skerritt (Duke Forrest), Sally Kellerman ('Hot
Lips' O'Houlihan), Robert Duvall (Maj. Frank Burns), Roger Bowen (Cor. Henry
Blake), Rene Auberjonois (padre John Mulcahy), David Arkin (Sgt. Major Vollmer),
Jo Ann Pflug (Ten. 'Dish'), Gary Burghoff
(soldado Radar' O'Reilly), Fred Williamson (Dr. Oliver 'Spearchucker' Jones),
Michael Murphy ('Me Lai' Marston), Indus Arthur, Ken Prymus, Bobby Troup, Kim
Atwood, Timothy Brown, John Schuck, Dawne Damon, Carl Gottlieb, Tamara
Wilcox-Smith, G. Wood, Bud Cort, Danny Goldman, Corey Fischer, Stephen Altman,
William Ballard, Buck Buchanan, etc. Duração: 116 minutos;
Distribuição em Portugal: Fox; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de
estreia em Portugal: 17 de Setembro de 1974.
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