sábado, 7 de janeiro de 2017

VÊM AÍ OS RUSSOS, VÊM AÍ OS RUSSOS


VÊM AÍ OS RUSSOS, VÊM AÍ OS RUSSOS (1966)

Norman Jewison (21.6.1926, Toronto, Canadá) é daqueles sólidos realizadores norteamericanos que nunca ganharam a estima dos seus iguais. Vários filmes seus disputaram Oscars (e um ganhou o Oscar de Melhor Filme do Ano: “No Calor da Noite”), mas nunca as nomeações para Melhor Realizador se traduziram no final por estatuetas. Ganhou uma, honorária, quase no final da carreira (1999). Depois de um início passado na televisão, e de algumas comédias no princípio da carreira no cinema, assinou obras meritórias, como “O Aventureiro de Cincinnati” (1965), “Vêm aí os Russos, Vêm aí os Russos” (1966),No Calor da Noite” (1967),O Grande Mestre do Crime” (1968),Chicago, Chicago” (1969), “Um Violino no Telhado” (1971),Jesus Cristo Superstar” (1973), “Rollerball - Os Gladiadores do Século XXI” (1975),...E Justiça para Todos” (1979), “A História do Soldado” (1984), “Agnes de Deus” (1985), “O Feitiço da Lua” (987), entre outras, prolongando o seu trabalho até 2003. Tanto se empenhou em comédias como em musicais, filmes de tese ou ficção científica, e sempre acabava bem as empreitadas.
“Vêm aí os Russos, Vêm aí os Russos”, de 1966, é definitivamente um filme datado. A década de 60 foi interessante de acompanhar quanto à guerra fria que se vivia entre EUA e URSS. Depois dos momentos de grande tensão, entre 1961 e 1962, com a invasão da Baía dos Porcos e a Crise dos Mísseis em Cuba, as relações entre as duas superpotências parece terem serenado um pouco, criando indícios de paz ancorados numa possível coexistência pacífica, com Nixon e Brejenev estabelecendo alguns acordos que serenaram um pouco a ebulição internacional. É neste contexto que aparece “The Russians Are Coming, the Russians Are Coming”, com argumento de William Rose, segundo o romance “The Off-Islanders”, de Nathaniel Benchley. Todo o filme se baseia na histeria norte-americana quanto a possíveis ataques soviéticos e aponta para uma moralidade final de concórdia e paz entre os povos (afinal os russos também salvam criancinhas em lugar de as comerem ao pequeno almoço).


A ideia é francamente divertida: em manobras, certamente de espionagem, perto da costa Oeste norte-americana, um submarino soviético encalha muito próximo de uma das praias da ilha (fictícia) de Gloucester. Realmente, o filme foi rodado na costa norte da Califórnia, principalmente em Mendocino, as cenas do porto são em Noyo Harbor, uma cidade ao sul de Fort Bragg. O capitão do submarino, um irado e incompetente Спрут ("polvo", na sua tradução), envia a terra o tenente Rozanov, juntamente com um grupo de oito marinheiros, para encontrarem e “alugarem” um barco para arrastar o submarino, desencalhando-o e levando-o para o mar alto. O grupo acaba por ocupar a casa de uma família em férias, os Whittaker, e a partir daí desencadeia-se a onda de histeria provocada pela “invasão” dos russos que “descem de paraquedas”, “ocuparam o aeroporto” (e que aeroporto!), estão um pouco por todo o lado, e às centenas. As peripécias são muitas e diversificadas, umas são muito bem conseguidas, outras arrastam-se um pouco, mas o resultado final é hilariante, a “moral” humanista, e sobretudo a interpretação muito conseguida, com um elenco de habituais segundas figuras, aqui em momentos de fulgor: Alan Arkin, Carl Reiner, Eva Marie Saint, Brian Keith, Paul Ford, Theodore Bikel, Tessie O'Shea, John Phillip Law, Ben Blue ou Michael J. Pollard são inesquecíveis.


Algumas curiosidades finais: o submarino que aparece no filme foi fabricado pelos produtores, dado que a marinha dos EUA se recusou a emprestar um e impediu o estúdio de trazer um submarino russo real. Mas os aviões que se veem, esses são reais, F-101 Voodoo Jets da 84th Fighter-Interceptor Squadron, provenientes da vizinha Base Aérea de Hamilton.
Diga-se ainda que, segundo Norman Jewison, o filme teve um impacto considerável tanto em Washington quanto Moscovo. Um senador, Ernest Gruening, chegou a referir-se a ele num discurso no Congresso, e uma cópia foi exibida no Kremlin, onde terá provocado lágrimas nalguns assistentes, entre eles o cineasta Sergei Bondarchuk.
Entre vários outros prémios e nomeações, “The Russians Are Coming the Russians Are Coming” foi nomeado para os Oscars de Melhor Filme, Melhor Argumento, Melhor Actor (Alan Arkin) e Melhor Montagem. Não ganharia nenhum. Mas nos Globos de Ouro teve melhor sorte. Alcançou o Globo para Melhor Filme de comédia ou musical, e Alan Arkin levou a estatueta de Melhor Actor na mesma categoria. Foram ainda nomeados John Phillip Law e o argumento.


VÊM AÍ OS RUSSOS, VÊM AÍ OS RUSSOS
Título original: The Russians Are Coming the Russians Are Coming

Realização: Norman Jewison (EUA, 1966); Argumento: William Rose, segundo romance de Nathaniel Benchley ("The Off-Islanders"); Produção: Norman Jewison, Walter Mirisch; Música: Johnny Mandel; Fotografia (cor): Joseph F. Biroc; Montagem: Hal Ashby, J. Terry Williams; Casting: Lynn Stalmaster;  Direcção artística: Robert F. Boyle; Decoração: Darrell Silvera;  Maquilhagem: Del Armstrong, Naomi Cavin, Sydney Guilaroff; Direcção de Produção: Jim Henderling, Fred Lemoine, Allen K. Wood; Assistentes de realização: Kurt Neumann, Leslie Gorall; Departamento de arte: Anthony Bavero, Lewis E. Hurst Jr., James F. McGuire, Thomas J. Wright; Som: Al Overton, Clem Portman, John Romness,  Sidney Sutherland;  Efeitos especiais: Daniel Hays; Companhia de produção: The Mirisch Corporation; Intérpretes: Carl Reiner (Walt Whittaker), Eva Marie Saint (Elspeth Whittaker), Alan Arkin (Lt. Rozanov), Brian Keith (chefe de policia Link Mattocks), Jonathan Winters (Norman Jonas), Paul Ford (Fendall Hawkins), Theodore Bikel (capitão do submarino),, Tessie O'Shea (Alice Foss (telefonista), John Phillip Law (Alexei Kolchin), Ben Blue (Luther Grilk), Andrea Dromm (Alison Palmer), Sheldon Collins (Pete Whittaker), Guy Raymond (Lester Tilly), Cliff Norton, Richard Schaal, Philip Coolidge, Don Keefer, Cindy Putnam, Parker Fennelly, Doro Merande, Vaughn Taylor, Johnny Whitaker, Danny Klega, Ray Baxter, Paul Verdier, Nikita Knatz, Constantine Baksheef, Alex Hassilev, Milos Milos, Gino Gottarelli, Paul Barselou, Sidney Clute, Laurence Haddon, Paul Lambert, Larry D. Mann, James McCallion, Michael J. Pollard, etc. Duração: 126 minutos; Distribuição em PortugalLNK Audiovisuais; Classificação etária: M/ 12 anos.

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