A GRANDE CORRIDA
À VOLTA DO
MUNDO (1965)
Houve
um tempo, em meados da década de 60 do século passado, que a comédia sonhou com
a super-produção e que chegou mesmo a ser designada por alguns como “epic
comedy” por comparação com alguns outros épicos desse período. Tudo terá
começado em 1963 com a mega comédia de Stanley Kramer “It's a Mad, Mad, Mad,
Mad World”, onde ao longo de três horas de perseguições e gags consecutivos,
uma legião de grandes actores cómicos transformaram o título que custara 3
milhões de dólares num triunfo de bilheteira inimaginável. Dois anos depois,
Blake Edwards convence a Mirisch Productions e a Warner Brothers a entrarem num
projecto semelhante, inspirado numa corrida de carro que aconteceu realmente em
1908, de Nova Iorque a Paris. (Curiosamente, no mesmo ano, em Inglaterra, Ken
Annakin, rodava outra mega comédia de um estilo muito semelhante, “Those
Magnificent Men in Their Flying Machines or How I Flew from London to Paris in
25 hours 11 minutes”).
Blake
Edwards vinha de grandes sucessos, “The Pink Panther” e “A Shot in the Dark”,
por isso se compreende que os estúdios tenham reunido 12 milhões de dólares
para o realizador satisfazer a sua ambição de homenagear as grandes comédias
clássicas mudas e o espirito dos cartoons. “The Great Race”, escrita
pessoalmente por Blake Edwards com a colaboração de Arthur Ross, acaba por
defraudar as espectativas na época da sua estreia, sendo um fracasso de
bilheteira e um relativo falhanço crítico. Mas os anos passam e o filme
torna-se num clássico da comédia, muito requisitado em versões DVD e Blu-Ray.
Não sendo o que se possa chamar uma obra-prima, a verdade é que esta super
comédia acaba por cumprir as promessas.
A ideia
é acompanhar uma corrida de automóveis que saem de Nova Iorque e terão de
chegar a Paris com vitória proclamada ao que primeiro cortar a meta e que
receberá um chorudo prémio. São vários os concorrentes, mas o filme irá
acompanhar sobretudo duas viaturas: numa, corre The Great Leslie, o cavaleiro
branco, imperturbável na sua indumentária imaculada e a sua intrépida
companheira jornalista Maggie Dubois (Tony Curtis e Natalie Wood), noutro,
seguem o malvado Professor Fate e o seu ajudante nas mais maquiavélicas
situações, Maximilian Meen (precisamente Jack Lemmon e Peter Falk). As
perseguições relembram obviamente o “slapstick”, o cinema mudo de Hal Roach,
Chaplin, Buster Keaton, Harold Lloyd ou Laurel e Hardy (a quem, aliás, o filme
de Blake Edwards é dedicado). Por outro lado, as engenhosas e maléficas
patifarias, do Professor Fate são inspiradas nos cartoons da série “Looney
Tunes”, de “o diabo da Tasmânia” a “Speedy Gonzalez”. Se globalmente o espírito
é esse, há momentos onde a citação é óbvia: a fabulosa sequência de “tarte na
cara” que surge no reino do Príncipe Frederick Hoepnick (uma outra magnífica
composição de Jack Lemmon) é uma reconstituição milimétrica das grandes cenas
clássicas do chamado “pastelão na cara” e de outras de humor eminentemente
físico que caracterizaram o “slapstick”.
O ritmo
é vertiginoso (empastela um bocadinho para o fim, mas mesmo assim segue-se
sempre com prazer), as situações hilariantes, as mudanças geográficas permitem
paródias muito saborosas a vários géneros cinematográficos, desde o filme de
aventuras ao western, passando pelas “Sombras Brancas”, de Nicholas Ray, pelo
filme histórico, entre outros Os actores são excelentes, desde os protagonistas
aos secundários. Desde Tony Curtis, no herói de dentes refulgentes e
indumentária de uma brancura de publicidade a detergente, até à azougada Natalie
Wood, uma arrojada fotojornalista, passando por Peter Falk, Keenan Wynn, Arthur
O'Connell, Vivian Vance, Dorothy Provine, entre outros, tudo gira sobre rodas.
Mas o “malvado” Jack Lemmon (e as suas maquiavélicas invenções) é insuperável,
criando uma daquelas personagens de eleição que não mais se esquecem.
A GRANDE CORRIDA À VOLTA DO MUNDO
Título original: The Great Race
Realização: Blake Edwards (EUA, 1965);
Argumento: Arthur A. Ross, Blake Edwards; Produção: Dick Crockett, Martin Jurow;
Música: Henry Mancini; Fotografia (cor): Russell Harlan; Montagem: Ralph E.
Winters; Design de produção: Fernando Carrere; Direcção artística: Fernando
Carrer; Decoração: George James; Guarda-roupa: Donfeld, Edith Head;
Maquilhagem: Gordon Bau, Sydney Guilaroff, Jean Burt Reilly; Coreografia:
Hermes Pan; Direcção de Produção: Clem Beauchamp, Chuck Hansen, Jack McEdward;
Assistentes de realização: Jack Cunningham, Richard Landry, Mickey McCardle;
Departamento de arte: Reg Allen, Jack Stevens, Mentor Huebner; Som: M.A.
Merrick, Treg Brown; Efeitos especiais: Johnny Borgese, George Lee; Efeitos
visuais: Linwood G. Dunn, James B. Gordon, Albert Simpson; Companhias de
Produção: Warner Bros., Patricia, Jalem Productions, Reynard; Intérpretes: Jack Lemmon (Professor
Fate / Principe Frederick Hoepnick), Tony Curtis (The Great Leslie), Natalie
Wood (Maggie Dubois), Peter Falk (Maximilian Meen), Keenan Wynn (Hezekiah
Sturdy), Arthur O'Connell (Henry Goodbody), Vivian Vance (Hester Goodbody),
Dorothy Provine (Lily Olay), Larry Storch (Texas Jack), Ross Martin (Barão
Rolfe Von Stuppe), George Macready (General Kuhster), Marvin Kaplan, Hal Smith,
Denver Pyle, William Bryant, Ken Wales,etc. Duração: 160 minutos; Distribuição em Portugal: inexistente;
Internacional: Fell Films (Blu Ray); Classificação etária: M/ 12 anos; Data de
estreia em Portugal: 7 de Dezembro de 1965.
JACK LEMMON
(1925 - 2001)
Jack
Lemmon foi um actor de registos múltiplos, mas particularmente dotado para a
comédia, sendo um dos actores preferidos de cineastas como Billy Wilder, Blake
Edwards ou Richard Quine, especialistas no humor. Algumas das suas criações
permanecerão para sempre como marcos no campo da comédia, como em “Quanto Mais
Quente, Melhor”, “A Grande Corrida à Volta do Mundo”, “O Apartamento”, “Irma la
Douce”, “A Notável Senhoria” ou “A Primeira Página”.
John
Uhler Lemmon III, de seu nome próprio, Jack Lemmon como nome artístico, nasceu
a 8 de Fevereiro de 1925, em Newton, Massachusetts, EUA, e viria a falecer a 27
de Junho de 2001, em Los Angeles, Califórnia, EUA, vítima de cancro. Filho de
uma família abastada, Jack Lemmon estudou em colégios particulares nos EUA e
teve um primeiro contacto com o teatro ainda na escola, ao substituir um colega
com poucas deixas. Mesmo assim, conseguiu transformar a substituição num
tremendo fracasso, esquecia-se de tudo o que tinha a dizer e recolhia
envergonhado aos bastidores, perante as gargalhadas do público. O insucesso não
o inibiu e, pelo contrário, fê-lo apaixonar-se pela arte dramática. Continuou a
representar, enquanto concluía um curso de Ciências Políticas em Harvard.
Depois de servir na II Guerra Mundial, seguiu a carreira de actor, iniciando-se
numa série televisiva “That Wonderful Guy” (1949-1950). No cinema, a sua
primeira aparição, data de 1954, “It Should Happen to You”, de George Cukor.
Dois anos depois, ganha o seu primeiro Oscar (ainda como actor secundário), em
“Mister Roberts”, de John Ford e Mervin Le Roy. Depois, foi uma carreira de
enorme sucesso, na televisão, no teatro, mas sobretudo no cinema. Com Blake
Edwards estreou-se como actor dramático, em “Days of Wines and Roses”.
Brilhante. Morreu em 2001, com 76 anos de idade, e foi sepultado no Westwood
Memorial Park, Los Angeles, Califórnia. Possui obviamente uma Estrela no Walk
of Fame de Hollywood.
Dois
Oscars: como Melhor Actor Secundário: 1956: “Mister Roberts”, e como Melhor
Actor, em 1974: “Save the Tiger”; mais seis nomeações para Melhor Actor: “Some
Like it Hot”, “Irma la Douce”, “Days of Wine and Roses”, “Tribute”, “The China Syndrome”
e “Missing”. Globos de Ouro para Melhor Actor em 1960: “Some Like it Hot”;
1961: “Irma la Douce”; 1973: “Avanti!”; 2000: “Inherit the Wind”; Prémio Cecil
B. DeMille em 1991 pelo conjunto da obra. BAFTAS (Inglaterra): Melhor Actor:
1959: “Some Like it Hot”; 1960: “The Apartement”; 1980: “Irma la Douce”;
Festival de Cannes: 1979: Melhor Actor: “Irma la Douce”; 1982: “Missing”;
Festival de Veneza: 1992: Coupe Volpi de Melhor Actor: “Glengarry”; Festival de
Berlin: 1981: Urso de Prata para Melhor Actor “Tribute”.
PRINCIPAIS FILMES:
1954:
It Should Happen to You (Uma Rapariga Sem Nome), de George Cukor; 1955: Mister
Roberts (Mister Roberts), de John Ford e Mervin Le Roy; 1955: My Sister Eileen
(O Prazer é Todo Meu), de Richard Quine; 1955: Three for the Show (Há Falta de
Homens), de H.C. Potter; 1957: Operation Mad Ball (Nem Guerra, Nem Paz), de
Richard Quine; 1958: Bell, Book and Candle (Sortilégio de Amor), de Richard
Quine; 1958: Cowboy (Cowboy, Como Nasce Um Bravo), de Delmer Daves; 1959: It
Happened to Jane (A Viuvinha Indomável), de Richard Quine; 1959: Some Like It
Hot (Quanto Mais Quente, Melhor), de Billy Wilder; 1960: Pepe (Pepe), de George
Sidney (cameo); 1960: The Apartment (O Apartamento), de Billy Wilder; 1962:
Days of Wine and Roses (Escravos do Vício), de Blake Edwards; 1962: The
Notorious Landlady (A Notável Senhoria), de Richard Quine; 1963: Irma La Douce
(Irma La Douce), de Billy Wilder; 1965: How to Murder Your Wife (Como Matar a
Sua Mulher), de Richard Quine; 1965: The Great Race (A Grande Corrida à Volta
do Mundo), de Blake Edwards; 1966: The Fortune Cookie (Como Ganhar Um Milhão),
de Billy Wilder; 1967: Luv (Livra-me Desta Mulher), de Clive Donner; 1968: The
Odd Couple (Mal por Mal antes com Elas), de Gene Saks; 1969: The April Fools
(Os Loucos do Amor), de Stuart Rosenberg; 1970: The Out-of-Towners (A Sorte
Viajou de Barco), de Arthur Hiller; 1971: Kotch (Antes Que Chegue o Inverno),
de Jack Lemmon (não creditado); 1972: Avanti! (Avanti! Amor à Italiana), de
Billy Wilder; 1972: The War Between Men and Women (A Guerra Entre Homens e
Mulheres), Melville Shavelson; 1973: Save the Tiger (Sonhos do Passado), de
John Avildsen; 1974: The Front Page (A Primeira Página), de Billy Wilder; 1975:
The Prisoner of Second Avenue (O Prisioneiro da Segunda Avenida), de Melvin
Frank; 1979: The China Syndrome (A Síndroma da China), de James Bridges; 1979:
1980: Tribute (A Homenagem), de Bob Clark; 1981: Buddy Buddy (Os Amigos da
Onça), de Billy Wilder; 1982: Missing (Missing - Desaparecido), de Costa-Gavras;
1986: That’s Life! (A Vida é Assim), de Blake Edwards; 1986: Macaroni, de
Ettore Scola; 1991: JFK (JFK), de Oliver Stone; 1992: Glengarry Glen Ross
(Sucesso a Qualquer Preço), de James Foley; 1992: The Player (O Jogador), de
Robert Altman; 1993: Short Cuts (Short Cuts — Os Americanos), de Robert Altman;
1993: 1995: Grumpier Old Men (Dois Novos Rabugentos), de Howard Deutch; 1995:
1996: Hamlet (Hamlet), de Kenneth Branagh; 1997: Out to Sea (Mais Olhos Que
Barriga), de Martha Coolidge; with Morrie, de de Mick Jackson (telefilme) 1999:
Chicken Soup for the Soul (série de TV). Como realizador: 1971: Kotch (Antes
Que Chegue o Inverno).
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