VÊM AÍ OS RUSSOS, VÊM
AÍ OS RUSSOS (1966)
Norman Jewison
(21.6.1926, Toronto, Canadá) é daqueles sólidos realizadores norteamericanos
que nunca ganharam a estima dos seus iguais. Vários filmes seus disputaram
Oscars (e um ganhou o Oscar de Melhor Filme do Ano: “No Calor da Noite”), mas
nunca as nomeações para Melhor Realizador se traduziram no final por
estatuetas. Ganhou uma, honorária, quase no final da carreira (1999). Depois de
um início passado na televisão, e de algumas comédias no princípio da carreira
no cinema, assinou obras meritórias, como “O Aventureiro de Cincinnati” (1965),
“Vêm aí os Russos, Vêm aí os Russos” (1966), “No
Calor da Noite” (1967), “O
Grande Mestre do Crime” (1968), “Chicago,
Chicago” (1969), “Um Violino no Telhado” (1971),
“Jesus
Cristo Superstar” (1973), “Rollerball - Os Gladiadores do Século XXI” (1975), “...E Justiça para
Todos” (1979), “A História do Soldado” (1984), “Agnes de Deus” (1985), “O
Feitiço da Lua” (987), entre outras, prolongando o seu trabalho até 2003. Tanto
se empenhou em comédias como em musicais, filmes de tese ou ficção científica,
e sempre acabava bem as empreitadas.
“Vêm aí os Russos,
Vêm aí os Russos”, de 1966, é definitivamente um filme datado. A década de 60
foi interessante de acompanhar quanto à guerra fria que se vivia entre EUA e
URSS. Depois dos momentos de grande tensão, entre 1961 e 1962, com a invasão da
Baía dos Porcos e a Crise dos Mísseis em
Cuba, as relações entre as duas superpotências parece terem serenado um pouco,
criando indícios de paz ancorados numa possível coexistência pacífica, com
Nixon e Brejenev estabelecendo alguns acordos que serenaram um pouco a ebulição
internacional. É neste contexto que aparece “The Russians Are Coming, the
Russians Are Coming”, com argumento de William Rose, segundo o romance “The
Off-Islanders”, de Nathaniel Benchley. Todo o filme se baseia na histeria norte-americana
quanto a possíveis ataques soviéticos e aponta para uma moralidade final de
concórdia e paz entre os povos (afinal os russos também salvam criancinhas em
lugar de as comerem ao pequeno almoço).
A ideia é francamente
divertida: em manobras, certamente de espionagem, perto da costa Oeste norte-americana,
um submarino soviético encalha muito próximo de uma das praias da ilha (fictícia)
de Gloucester. Realmente, o filme foi rodado na costa norte da Califórnia,
principalmente em Mendocino, as cenas do porto são em Noyo Harbor, uma cidade
ao sul de Fort Bragg. O capitão do submarino, um irado e incompetente Спрут
("polvo", na sua tradução), envia a terra o tenente Rozanov,
juntamente com um grupo de oito marinheiros, para encontrarem e “alugarem” um
barco para arrastar o submarino, desencalhando-o e levando-o para o mar alto. O
grupo acaba por ocupar a casa de uma família em férias, os Whittaker, e a
partir daí desencadeia-se a onda de histeria provocada pela “invasão” dos
russos que “descem de paraquedas”, “ocuparam o aeroporto” (e que aeroporto!),
estão um pouco por todo o lado, e às centenas. As peripécias são muitas e
diversificadas, umas são muito bem conseguidas, outras arrastam-se um pouco,
mas o resultado final é hilariante, a “moral” humanista, e sobretudo a
interpretação muito conseguida, com um elenco de habituais segundas figuras,
aqui em momentos de fulgor: Alan Arkin, Carl Reiner, Eva Marie Saint, Brian
Keith, Paul Ford, Theodore Bikel, Tessie O'Shea, John Phillip Law, Ben Blue ou
Michael J. Pollard são inesquecíveis.
Algumas curiosidades
finais: o submarino que aparece no filme foi fabricado pelos produtores, dado
que a marinha dos EUA se recusou a emprestar um e impediu o estúdio de trazer
um submarino russo real. Mas os aviões que se veem, esses são reais, F-101
Voodoo Jets da 84th Fighter-Interceptor Squadron, provenientes da vizinha Base
Aérea de Hamilton.
Diga-se ainda que,
segundo Norman Jewison, o filme teve um impacto considerável tanto em
Washington quanto Moscovo. Um senador, Ernest Gruening, chegou a referir-se a
ele num discurso no Congresso, e uma cópia foi exibida no Kremlin, onde terá
provocado lágrimas nalguns assistentes, entre eles o cineasta Sergei
Bondarchuk.
Entre vários outros
prémios e nomeações, “The Russians Are Coming the Russians Are Coming” foi
nomeado para os Oscars de Melhor Filme, Melhor Argumento, Melhor Actor (Alan
Arkin) e Melhor Montagem. Não ganharia nenhum. Mas nos Globos de Ouro teve
melhor sorte. Alcançou o Globo para Melhor Filme de comédia ou musical, e Alan
Arkin levou a estatueta de Melhor Actor na mesma categoria. Foram ainda
nomeados John Phillip Law e o argumento.
VÊM AÍ OS RUSSOS, VÊM
AÍ OS RUSSOS
Título original: The Russians Are Coming the Russians
Are Coming
Realização: Norman Jewison (EUA, 1966); Argumento: William Rose, segundo romance de
Nathaniel Benchley ("The Off-Islanders"); Produção: Norman Jewison,
Walter Mirisch; Música: Johnny Mandel; Fotografia (cor): Joseph F. Biroc;
Montagem: Hal Ashby, J. Terry Williams; Casting: Lynn Stalmaster; Direcção artística: Robert F. Boyle;
Decoração: Darrell Silvera; Maquilhagem:
Del Armstrong, Naomi Cavin, Sydney Guilaroff; Direcção de Produção: Jim
Henderling, Fred Lemoine, Allen K. Wood; Assistentes de realização: Kurt
Neumann, Leslie Gorall; Departamento de arte: Anthony Bavero, Lewis E. Hurst
Jr., James F. McGuire, Thomas J. Wright; Som: Al Overton, Clem Portman, John
Romness, Sidney Sutherland; Efeitos especiais: Daniel Hays; Companhia de
produção: The Mirisch Corporation; Intérpretes:
Carl Reiner (Walt Whittaker), Eva Marie Saint (Elspeth Whittaker), Alan Arkin
(Lt. Rozanov), Brian Keith (chefe de policia Link Mattocks), Jonathan Winters
(Norman Jonas), Paul Ford (Fendall Hawkins), Theodore Bikel (capitão do
submarino),, Tessie O'Shea (Alice Foss (telefonista), John Phillip Law (Alexei
Kolchin), Ben Blue (Luther Grilk), Andrea Dromm (Alison Palmer), Sheldon Collins
(Pete Whittaker), Guy Raymond (Lester Tilly), Cliff Norton, Richard Schaal,
Philip Coolidge, Don Keefer, Cindy Putnam, Parker Fennelly, Doro Merande,
Vaughn Taylor, Johnny Whitaker, Danny Klega, Ray Baxter, Paul Verdier, Nikita
Knatz, Constantine Baksheef, Alex Hassilev, Milos Milos, Gino Gottarelli, Paul
Barselou, Sidney Clute, Laurence Haddon, Paul Lambert, Larry D. Mann, James
McCallion, Michael J. Pollard, etc. Duração: 126 minutos; Distribuição em
PortugalLNK Audiovisuais; Classificação etária: M/ 12 anos.